São Paulo, segunda-feira, 8 de agosto de 1994
Próximo Texto | Índice

Lula diz que desapropriará terras por preços abaixo do mercado

ELVIS CESAR BONASSA

ELVIS CESAR BONASSA ; ARI CIPOLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ARI CIPOLA
A desapropriação de terras para reforma agrária será feita, num eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pelo valor venal das propriedades, não pelo preço de mercado.
"Se o fazendeiro tiver uma fazendona, mas pagar imposto correpondente a uma fazendinha, vai receber o valor de uma fazendinha", disse Lula durante comício na Ceilândia (cidade-satélite de Brasília).
Valor venal é o preço usado para cálculo de impostos. Fica normalmente muito abaixo do valor real das propriedades.
Na noite de anteontem, em Maceió, o candidato a vice já havia radicalizado o discurso em relação à reforma agrária.
"Vai acabar o latifúndio, nós vamos fazer reforma agrária nas terras dos usineiros", disse Aloizio Mercadante.
Como de hábito em seus comícios, Lula contou em Ceilândia uma história para abordar o tema. O candidato disse que estava conversando com um fazendeiro que teve terras desapropriadas pelo Incra e reclamava do pagamento.
Segundo a narrativa de Lula, esse fazendeiro teria perguntado: "Seu Lula, como o senhor vai pagar as terras desapropriadas?". O candidato teria respondido: "Vou pagar a terra pelo preço que você paga de impostos".
No discurso, Lula afirmou que a reforma agrária não é apenas uma prioridade para o PT. "Para nós, a reforma agrária é uma profissão de fé". Depois, repetiu a promessa de assentar 800 mil famílias caso chegue à Presidência.
O comício de ontem na Ceilândia reuniu cerca de 5.000 pessoas, segundo a Polícia Militar, e 10 mil, segundo os organizadores. Foi o maior comício do PT no DF durante esta campanha.
Antes de Lula, discursou o candidato a vice, Aloizio Mercadante (PT). Ele também insistiu no tema da reforma agrária.
"Os usineiros estão assustados, a UDR (União Democrática Ruralista) está assustada, porque vai ter reforma agrária neste país".
UDR
Em Presidente Venceslau (SP), o presidente nacional da UDR, Roque Roosevelt dos Santos, disse que Lula precisa aprender que a lei "existe para ser respeitada".
Segundo ele, a afirmação do candidato petista de que vai desapropriar terras pelo valor venal "é feita para engodar o povo".
"Se ele for eleito, vai ter que agir de acordo com a atual Constituição, que diz que o caminho da lei que vai definir o valor a ser pago é uma ação indenizatória e não a vontade do presidente da República", disse Roosevelt.
Terras dos usineiros
A promessa de desapropriar terras de usineiros foi um dos motes da campanha de Fernando Collor de Mello ao governo de Alagoas, junto com a caça aos marajás.
Collor tentou desapropriar as terras e acabou perdendo na Justiça. O resultado foram dois acordos que acabaram favorecendo os usineiros.
Fora do palanque, após o discurso em Maceió, Mercadante relativizou a declaração. "Vamos tocar só em terras improdutivas".
O problema é que, em Alagoas, praticamente não há terras improdutivas nas mãos de usineiros. Cerca de 60% das terras estão ocupadas pela cana-de-açúcar. O restante se divide em outras culturas ou terras não-férteis.
Isso significa que, pelo menos naquele Estado, a promessa de palanque não vai poder ser cumprida.

Colaborou Ulisses de Souza, da Agência Folha em Presidente Prudente

Próximo Texto: Esquema paralelo protege Lula em AL
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.