São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 1994
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Itamar aceita a proposta de Ricupero

SÔNIA MOSSRI; WILLIAM FRANÇA; SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Itamar Franco cedeu ontem aos limites impostos pelo ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, para o reajuste dos servidores. Na reunião de ontem, Ricupero chegou a insinuar que deixaria o cargo caso estes limites fossem extrapolados.
A Folha apurou que os limites são os seguintes: reajuste de 35% para os militares, divididos em quatro parcelas a partir de setembro; para os civis, o limite é de 14,28% divididos em duas parcelas em setembro e outubro.
O presidente estava visivelmente deprimido na reunião, na qual mais ouviu do que falou. Mas ao final, deu um prazo de cinco dias para que a Casa Civil prepare uma MP (medida provisória) que regulamente o reajuste.
Segundo a assessoria do presidente, a MP deve se orientar pelos dados fornecidos pela Fazenda. A MP vai estabelecer só a primeira etapa da isonomia (unificação das tabelas 1 e 2 do Executivo).
Segundo o assessor de imprensa do Planalto, Fernando Costa, Itamar não quer que o texto da MP comprometa o Plano Real.
Antes do encontro com Itamar, no início da noite de ontem, o ministro Beni Veras (Planejamento), o secretário do Tesouro Nacional, Murilo Portugal, o secretário de Orçamento e Finanças, Edney de Resende Moura, reuniram-se com o ministro-chefe da Administração, Romildo Canhim.
A equipe econômica tentou acertar números comuns sobre recursos disponíveis para o aumento para os militares e servidores civis. Não houve acordo.
Canhim disse que a equipe econômica admite uma disponibilidade de recursos orçamentários na faixa de US$ 2,1 bilhões. Já a Fazenda e o Planejamento afirmam que esse número não ultrapassa a marca de US$ 1 bilhão.
Murilo Portugal disse à Folha que não existem verbas no Tesouro que permitam um reajuste de 28% para o funcionalismo público civil e militar. Segundo ele, um aumento neste percentual comprometeria o Plano Real.
A equipe econômica atribui a Canhim o descontentamento de Itamar, manifestado no último domingo, sobre as estimativas de recursos disponíveis para o reajuste.
O candidato do PSDB à Presidência, Fernando Henrique Cardoso, foi mobilizado para tentar convencer Itamar de que um aumento elevado para o funcionalismo comprometeria o plano.
Canhim afirmou que achava difícil que o governo chegasse a um consenso ontem sobre o aumento do funcionalismo público. Apesar disso, ele observou que o presidente quer anunciar o reajuste ainda nesta semana.
Os ministros militares estão dividos com relação ao reajuste.
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Arnaldo Leite Pereira, e o ministro da Marinha, Ivan da Silveira Serpa, são favoráveis a um reajuste de cerca de 11% em setembro, para uma recomposição maior em dezembro.
O ministro do Exército, Zenildo de Lucena, não gosta da idéia. Para ele, um reajuste de apenas 11% seria mal recebido pela tropa e, por isso, defende o adiamento do aumento para o final do ano.
Segundo a Folha apurou, Zenildo teme que os ministros militares sejam acusados de contribuir para o fracasso do plano por causa de um reajuste de apenas 11%.
Colaboraram WILLIAM FRANÇA e SILVANA DE FREITAS, da Sucursal de Brasília.

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