São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ator fica popular em Cuba

ROCÍO GARCÍA
DO "EL PAÍS"

Jorge Perugorría, 29, vive num dos bairros mais pobres e marginais de Havana, onde sequer há um cinema. "Morango e Chocolate" é o primeiro filme em que trabalha. Ele faz o papel de Diego, um homossexual que inicia uma amizade com um militante comunista e que é reprimido a ponto de ser obrigado a abandonar seu país.
Seus próximos projetos são "Derecho de Asilo", baseado num conto de Alejo Carpentier, e "Edipo Alcalde", uma versão de "Édipo Rei" com roteiro de García Márquez.

Pergunta - Como você avalia seu trabalho no filme?
Resposta - Foi muito importante, por vários motivos. Em Cuba, nós atores que vivemos na ilha não queremos trabalhar em Hollywood ou na Espanha. Nossas aspirações são de trabalhar com diretores cubanos, porque vivemos esse isolamento também como criadores.
Pergunta - Alguma coisa mudou em sua vida depois do sucesso do filme?
Resposta - Em alguns aspectos sim. Eu me transformei num ator popular e isso me deu oportunidade de viajar. Mas é difícil levar a fama em meio às circunstâncias duras em que a gente vive.
Resolver os problemas cotidianos para um ator popular é difícil, porque em Cuba é impossível para qualquer profissional –seja ele ator, médico ou engenheiro– viver de seu salário. Todo mundo procura encontrar meios de se virar por fora.
Pergunta - Como você se colocou no papel de um homossexual?
Resposta - Foi um trabalho muito difícil. Eu já conhecia a história e os personagens, mas me deixei guiar por Titón. Ele me apresentou a várias amigos homossexuais seus e comecei a trabalhar com eles.
Pergunta - Eram necessários os maneirismos excessivos do personagem, sobretudo na primeira parte do filme?
Resposta - Nesse trabalho de pesquisa que fiz, um homossexual me contou os códigos de relações entre eles em Cuba. Para eles o momento mais difícil de uma relação é quando se conhecem, porque é preciso deixar muito claro a proposta que se está fazendo.
Pergunta - Os militantes comunistas em Cuba são esquemáticos como no filme?
Resposta - Para acreditar em David é preciso haver vivido na Cuba dos anos 70. Mesmo hoje, há muitos jovens que pensam como ele. Talvez o personagem pareça esquemático, mas em Cuba, na vida real, existem pessoas que são esquemáticas.
Pergunta - Cuba é uma sociedade intolerante?
Resposta - Em muitos aspectos, sim, mas "Morango e Chocolate" coloca um problema universal.
Pergunta - Você já pensou em abandonar Cuba?
Resposta - Não. Pretendo viver em Cuba e seguir o mesmo caminho que meu povo está seguindo.
Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: 'Morango e Chocolate' conquista unanimidade
Próximo Texto: SBT vende 'Éramos Seis' para Portugal
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.