São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 1994
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Argentina desiste de ameaças contra o Irã

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Argentina não deverá romper relações diplomáticas com o Irã caso se comprove participação de diplomatas iranianos no atentado a entidades judaicas em Buenos Aires no dia 18 de julho.
Na semana passada, o presidente Carlos Menem havia ameaçado com o rompimento de relações. Ontem, o chanceler Guido di Tella disse que as relações ficarão abaladas mas não haverá rompimento.
Após o atentado que destruiu a sede da Amia (Associação Mutual Israelita Argentina) e da Daia (Delegação de Associações Israelitas Argentinas) as suspeitas caíram sobre o Hizbollah -milícia xiita pró-Irã do Líbano– e sobre o Irã.
Ambos negam envolvimento no atentado que matou 96 pessoas.
Durante as investigações, o juiz Juan Jose Galeano, encarregado do caso, viajou à Venezuela para interrogar um ex-diplomata iraniano.
Moutacher Moutamer aparentemente deu informações sobre bases do Hizbollah na América do Sul e sobre a envolvimento de diplomatas iranianos no atentado de 1992 à Embaixada de Israel em Buenos Aires que matou 29.
A Justiça argentina descobriu que um dos membros do corpo diplomático do Irã na Argentina procurou uma perua Renault Traffic pouco tempo antes do atentado.
Uma Renault Traffic foi usada como carro-bomba carregado com 150 kg de explosivos no ataque à Amia. O diplomata negou envolvimento e repudiou o ataque.
A decisão de não romper relações com o Irã foi tomada em reunião de Menem com seus ministros anteontem à noite.
A reunião se deu depois que funcionários da Justiça informaram que o juiz Galeano teria indícios do envolvimento de quatro diplomatas iranianos.
Dois deles teriam se desligado da embaixada pouco tempo antes da explosão e estariam de volta ao Irã. Os outros dois ainda estariam em Buenos Aires.
Se Galeano apontar oficialmente diplomatas como suspeitos, o caso passa para a alçada da Corte Suprema de Justiça.
Se o envolvimento for confirmado, o máximo que o governo argentino pode fazer é pedir que deixem o país.
"Isso não significa que as relações estariam rompidas. Implica um problema no relacionamento, não uma interrupção", disse o chanceler Di Tella.
"Não se podem romper relações diplomáticas como uma reação", afirmou o ministro da Defesa Oscar Camilión.
Na sua opinião, "medidas apressadas nesse campo sempre dão lugar a arrependimento".
Um funcionário da chancelaria que pediu para se manter anônimo disse que o medo de represálias ditou o recuo da Argentina.
O Irã é um importante parceiro comercial da Argentina que tem superávit comercial de US$ 300 milhões por ano com o país.

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