São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 1994
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Inflação e Itamar assombram FHC real

ELEONORA DE LUCENA
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO

Nuvens começaram a se formar no cenário supostamente paradisíaco do Real. Primeiro foi a inflação de julho em São Paulo. Depois foi a ira do presidente Itamar Franco na negociação do reajuste do funcionalismo.
O governo tinha alardeado que a inflação do primeiro mês do plano chegaria, no máximo, aos 5%. Ela foi de 6,95%, de acordo com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo).
Foi a maior variação em "moeda forte" (URV e real) desde o início do ano. Os produtos "in natura" chegaram a subir 35% em julho.
Apesar da queda de 4,20% registrada no mesmo período na cesta básica, ela precisa cair mais 15,91% para que seu custo médio volte ao patamar do quadrimestre novembro/fevereiro, usado na conversão dos salários para a URV.
Os números mostram que, ao contrário do que tenta vender a publicidade oficial (econômica e política), a inflação não acabou. Ela está acima do que esperavam o governo e seu candidato.
Não é à toa que o ministro Rubens Ricupero ainda corre à televisão pedir que a população não consuma. Na lógica do plano, mais consumo é igual a mais inflação. E, para segurar as compras, a equipe planeja aumentar mais os juros –o que significa mais atrito com empresários.
Mas, nessa área, não são esperados conflitos maiores. Mergulhada na campanha política oficial, grande parte do empresariado procura não fazer marola e evita críticas à política econômica.
Alguns empresários chegam a admitir reservadamente que estão evitando fazer demissões agora para não prejudicar o plano, digo, a candidatura Fernando Henrique Cardoso. Mesmo os exportadores estão comedidos nas suas contestações à política cambial que lhes dá perdas.
O confronto maior existe mesmo dentro do governo. E, desde o início do plano, esta foi a semana mais tensa. Logo no domingo, o presidente Itamar insinuou que a Fazenda mentia sobre os números usados na discussão para o aumento do funcionalismo público federal.
O ministro Ricupero ameaçou pedir demissão e o presidente cedeu, engolindo os números. Tudo em nome do Real e da candidatura FHC. Só não ficou claro por que o Planalto resolveu fazer marola justo quando o cenário do plano não poderia ser mais róseo.
O presidente tentou mostrar que ainda tinha a voz de comando, mas não sustentou sua posição. Queria mais aumento salarial, mas recuou sob o argumento de que reajustes maiores comprometeriam o plano.
É verdade que a equipe também pretendia segurar mais o salário dos servidores. Também recuou sob o argumento político. E resolveu deixar a bomba dos gastos públicos para o ano que vem. Aliás, o governo sabe que o plano está deixando bombas para serem desarmadas –ou estouradas– mais adiante.
Apesar do acordo fechado, o incêndio do funcionalismo ainda não foi totalmente debelado –os militares querem o reajuste em menos parcelas. De qualquer forma, o episódio deixou evidente que o efeito Itamar não é desprezível na campanha política.
Inflação e Itamar assombram a trajetória até agora retumbante da campanha oficial para o Planalto.

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