São Paulo, sábado, 13 de agosto de 1994
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Sindicato do Poder

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quando decidiu entrar na disputa eleitoral, Fernando Henrique deu um susto em sua tribo. Possuía até então uma biografia que lhe rendia a fama de intelectual de esquerda.
Pragmático, notou que teses acadêmicas não ganham eleição. Armou-se para a guerra. Se Lula liderava as pesquisas, deveria unir-se a todos os potenciais adversários do PT.
Acabou levantando as paredes de sua candidatura a partir do mesmo alicerce em que Fernando Collor havia fincado os pilares de sua campanha.
No segundo turno de 89, Fernando Henrique votou em Lula. Hoje é, entre todos os contendores, o mais vistoso anti-Lula. É o produto do segundo susto que Lula deu na elite nacional.
Fernando Henrique tem a seu lado as forças econômicas e políticas que governam o país há mais de 30 anos. É um outro homem.
O candidato tucano associou-se ao sindicato do poder. Uniu à sua volta a nata do conservadorismo nacional, da avenida Paulista ao recôncavo baiano, passando pelo Jardim Botânico carioca.
Pois bem. Fernando Henrique está sinceramente incomodado com a metamorfose que a eleição provocou em sua biografia. Se eleito, planeja reconstruí-la.
A simples perspectiva de vitória gerou as primeiras rusgas entre Fernando Henrique e o PFL. Há entre o candidato e o aliado de ocasião uma relação tensa, desconfiada.
Trama-se no PSDB uma composição de governo que reduza ao máximo a participação de pefelistas no primeiro escalão.
Planeja-se atrair para um ainda hipotético ministério de Fernando Henrique inclusive personalidades vinculadas ao PT de Lula.
É tudo muito bonito. Mas alguém precisa avisar ao PFL. De resto, para dispensar o apoio fisiológico, Fernando Henrique precisaria contar com um PSDB bem mais robusto que o atual.
A história reserva lugar de destaque para os vitoriosos. Derrotado, Fernando Henrique teria dificuldades para se explicar à academia.
Vitorioso, tem a chance de esculpir o futuro. Há dois modos de fazê-lo: ou convence os seus aliados a mudarem de comportamento ou trai alguns deles.
Como a primeira hipótese é improvável, resta, na hipótese de vitória, a segunda. Logo nos primeiros dias de um eventual governo tucano, Fernando Henrique terá de produzir algumas vítimas.
Qualquer outro caminho lhe reservará um futuro de Sarney. Manietado por uma Aliança Democrática pós-moderna, não sairá do lugar.

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