São Paulo, sábado, 13 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'O Eclipse' é exibido amanhã

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Filme: O Eclipse
Produção: Itália, 1962, 125 min.
Direção: Michelangelo Antonioni
Canal: amanhã, à 0h na Bandeirantes

Diante de "O Eclipse", o espectador tem motivos para se perguntar o que é, afinal, este filme que a Bandeirantes exibe amanhã, aproveitando a passagem de Antonioni pelo Brasil.
Em um nível, "O Eclipse" é o fecho da trilogia iniciada com "A Aventura" e "A Noite", que consagrou o cineasta italiano internacionalmente. Nos anos 60, em todo caso, um filme como este –cheio de vazios, de coisas que não acontecem, de acontecimentos que não se desencadeiam– seria até esperável.
Não previsível. Monica Vitti é a mulher que, após encerrar um caso amoroso, passa férias em Roma. Lá, ela se envolverá com um corretor da Bolsa (Alain Delon).
Mas não é isso, em definitivo, o que conta. Na memória ficam as longas caminhadas de Monica pela cidade. Caminhadas que, na pior das hipóteses, popularizaram as faixas de segurança para pedestres.
Antonioni as filma obsessivamente. Não só porque delimitam um trajeto como por serem, aparentemente, compostas pela adição de uma faixa branca a uma preta. O vazio e o pleno. Ausência e presença.
Mas também existe a Bolsa de Valores: ela é objeto de uma sequência antológica, que capta com perfeição seu funcionamento frenético e a relatividade da idéia de valor. O que permanece e o que passa. Papéis.
Febril ou lento, é o tempo que organiza as coisas. É o coração da narrativa de Antonioni. Se Hitchcock criou um tempo que pode se distender ao infinito, para dentro dele inserir a vida, Antonioni instala-se no interior desse tempo para observar o seu fluir.
É o lento correr do tempo que sedimenta ou desfaz impressões, aparências em "O Eclipse". A arte de Antonioni é a de captar esse ritmo da vida, no que tem de fugacidade e permanência. Este é um dos filmes mais belos do cinema moderno.(IA)

Texto Anterior: Paz de espírito afasta alegria
Próximo Texto: Sílvio de Abreu estréia como dramaturgo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.