São Paulo, sábado, 13 de agosto de 1994
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Sílvio de Abreu estréia como dramaturgo

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Silvio de Abreu não resistiu à tentação de atirar a última pá de cal sobre a Era Collor.
Depois de satirizar a corrupção daqueles tempos na novela "Deus nos Acuda", que a Globo exibiu entre 92 e 93, o autor retoma o tema na comédia "Capital Estrangeiro", primeira peça que assina em 17 anos de carreira.
O espetáculo terá direção de Cecil Thiré e um elenco de apenas três atores: Edson Celulari, Patrícia Travassos e Hélio Ary. Estréia daqui um mês, no Teatro Ginástico, região central do Rio. Em março, vem para São Paulo.
O protagonista da peça é Alberto, ex-corretor da Bolsa de Valores que ocupou um cargo no segundo escalão do governo Collor.
Enquanto esteve perto do poder, levou vida de rei. Passava fins-de-semana em Nova York, pagava US$ 700 dólares por uma garrafa de champanhe, só usava gravata Hermès –tudo às custas do esquema PC.
Quando Collor caiu, as "torneirinhas" secaram. Sem emprego e sem mordomias, Alberto mora em uma cobertura nos Jardins, zona nobre de São Paulo. Perdeu amigos e "serviçais". Tem apenas a companhia da mulher, Telminha, filha de militar.
A peça começa com o casal à beira do despejo. Alberto deve seis meses de aluguel e não sabe de onde tirar o dinheiro. Já se desfez de tudo: carro, roupas, jóias.
Resta-lhe, porém, a mulher. A solução é vendê-la. Para quem? Para o "capital estrangeiro" –um banqueiro italiano que conheceu nos tempos de fartura, durante uma viagem à Grécia.
"Não me baseei em ninguém especificamente ao criar os personagens da peça. Quis apenas traçar o retrato de uma época", diz Sílvio de Abreu. "O governo de Fernando Collor não teve graça nenhuma para o país. Mas ainda hoje se revela um prato cheio para os humoristas. Foi um período repleto de acontecimentos ridículos. E a comédia vive do ridículo."
Com o espetáculo, o autor não exorciza apenas a Era Collor. Também põe para correr um medo que carrega há anos: o de se aventurar como dramaturgo.
"Sempre tive receio de escrever uma peça", revela. A única empreitada teatral a que se permitiu, até agora, foi assinar textos para dois shows de Cláudia Raia.
"Por muito tempo, alimentei um respeito excessivo pelo teatro", afirma Abreu. "Achava que só valia a pena escrever peças se tivessem a mesma qualidade dos clássicos de Molière, Tchekov e outros grandes dramaturgos."
Hoje, é mais tolerante. "Sei que 'Capital Estrangeiro' não chega aos pés de Molière. Nem por isso deixa de ter algum valor –ainda que seja apenas o de divertir o público."

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