São Paulo, sábado, 13 de agosto de 1994
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Amor aos idosos

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Em clima de eleições pode parecer fora de propósito tratar de idosos e doentes. O assunto, no entanto, é muito oportuno, porque alimenta a esperança de que seja assumido nos programas dos partidos.
Há muitos idosos desamparados. Alguns vão ficando sem família, à medida que falecem os parentes mais chegados. Outros, infelizmente, vêem-se abandonados pelo egoísmo e descaso dos parentes. Acrescentemos a isso a dificuldade de serem devidamente atendidos, quando os familiares se ausentam para o trabalho fora de casa.
Encontramos, graças a Deus, situações dignas de louvor. Sem medir sacrifícios, há famílias pobres, que se dedicam com amor e carinho a cuidar de seus idosos e enfermos.
Nesta semana, visitei várias paróquias do interior e encontrei exemplos desta solicitude comovente. Na cidade de Rio Espera (MG), vivem na mesma casa três homens de idade avançada e pobres. Um é cego e deficiente mental, os dois outros são doentes. Uma parenta trata deles com todo desvelo.
Na mesma cidade conheci uma senhora enferma, dona Marta. Quando jovem caminhava e estudava normalmente. Sofreu depois uma doença que foi tolhendo seus movimentos, até perder a visão e ficar imóvel no leito. Está assim há 25 anos. Deitada de bruços, apenas consegue conversar. O que mais impressiona é seu bom espírito. Tem profunda fé em Deus e coragem. Não se queixa. Preocupa-se com os outros e acompanha o que pode pelo radinho de cabeceira. Quem cuida dela é a sua irmã, atenta a qualquer necessidade.
Na cidade vizinha, Senhora de Oliveira (MG), seis idosos carentes foram acolhidos na Casa de São Vicente. O prédio é pequeno, construído pelo povo com apoio do pároco. A manutenção fica a cargo dos vizinhos. Iniciativas como essa são numerosas e precisam ser imitadas. Não nos esqueçamos dos lares e asilos para anciãos e enfermos, fruto do zelo e da solidariedade humana. Quem não se lembra da irmã Dulce, em Salvador? A Sociedade de São Vicente continua atuante em todo o Brasil.
No entanto, existem muitos idosos que não recebem estes cuidados. Daí a necessidade de unirmos nossas forças para acolhermos estes irmãos necessitados, amenizando a fase final de suas vidas.
Em primeiro lugar, é indispensável a afeição dos familiares. Nada conforta tanto o idoso quanto sentir-se amado em seu lar. Onde não fosse possível a atenção da própria família, fica o apelo às comunidades cristãs e grupos de boa vontade. Nas pequenas cidades, não será tão difícil organizar uma casa para receber os idosos. Aos jovens fica o convite para que sejam os primeiros a assumir, com alegria, essa tarefa.
Nas cidades maiores, o empreendimento precisará dos recursos do governo, assegurando, além do abrigo, o atendimento especializado à saúde, com equipes que possam visitar os que permanecem nas famílias mais pobres. As casas para idosos sejam agradáveis, com lazer e alguma ocupação de seu gosto. O importante é que experimentem estima e afeto, e possam ainda sentir-se úteis aos outros.
Aos atuais e futuros membros do governo caberá elaborar, com auxílio da sociedade organizada, um programa completo em benefício da terceira idade. Vai crescendo, no Brasil, a ação pela cidadania em favor da vida. O amor aos idosos e necessitados há de atrair bênçãos especiais de Deus, para vencermos as barreiras do egoísmo que mora ainda em todos nós.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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