São Paulo, sábado, 13 de agosto de 1994
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Sem futuro

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – Os números do IBGE relativos à situação das crianças brasileiras, divulgados ontem no Rio, proporcionam uma perversa constatação: não poderiam ser outros.
O IBGE afirma em relatório conjunto com o Unicef que aumentou em 2 milhões o número de crianças que vivem sem meios para tal. Eram 30 milhões em 80, passaram para 32 milhões em 91.
São os filhos do desemprego, do salário de fome (seus pais ganham no máximo dois salários mínimos por mês, ou seja, menos de R$ 130). Vítimas do descaso, são o futuro que não virá.
Em março deste ano, documentos do IBGE que serviram de base para o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, incluir a luta por empregos na sua cruzada contra a fome já indicavam a triste realidade agora confirmada.
Afinal, tais documentos revelavam o seguinte: há no país pelo menos 15 milhões de pessoas que ganham entre um e dois salários mínimos por mês, 12,3 milhões que recebem menos de um salário, 2,4 milhões de desempregados (portanto, sem salário fixo) e 5,2 milhões de pessoas que trabalham, mas não recebem dinheiro algum (no máximo, têm o "direito" de plantar e colher para seu sustento na terra em que labutam).
Resumindo: 34,9 milhões de brasileiros.
Tirando deste número os que ganham entre um e dois salários, teremos quase 20 milhões de miseráveis.
E aprofundando um pouco mais o estudo, conforme a Folha revelou à época, encontraremos 2 milhões de crianças com menos de 14 anos atuando no mercado de trabalho. O que é absolutamente proibido pela Constituição.
Portanto, nada a estranhar nos números ora divulgados, infelizmente.
Apesar de suas grandezas, eles apenas revelam uma porção imensa e obscura do país para o qual muita gente se recusa a olhar.

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