São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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O Negócio é Beisebol

MOACYR SCLIAR

Cara, aquilo tinha tudo para ser um grande assalto, talvez o maior assalto da história do Brasil.
Pra começar, o plano era perfeito, foi muito bem executado. A gente roubou um carro da polícia. Depois, conseguimos agarrar um tira e ficamos com a farda dele. Quer dizer: carro, farda –só faltava a gente arranjar um delegado de refém.
Bom, mas com carro e farda nós já tínhamos o bastante. Estávamos preparados para assaltar qualquer coisa, uma mansão, um carro forte, um banco. Só que ao invés disto resolvemos assaltar um ônibus. Péssima idéia, cara, péssima idéia.
É verdade que era um ônibus de turismo. E um ônibus de turismo bem podia ter turistas, destes que trazem muamba do Paraguai. Colheita farta, videocassetes, computadores, radiogravadores, todas essas coisas que a gente vende fácil.
Mas não. Sabem quem viajava no tal ônibus, cara?
Era um time, um time completo. Aí você vai dizer: bom, mas se é um time de futebol até pode render um bom resgate. Com um pouco de sorte a gente pegava um desses jogadores ricaços, tipo Romário, e aí era uma festa.
Só que o time não era de futebol, cara. Vê o nosso azar: não era um time de futebol. Era um time de beisebol. Mas o que é isto, você vai me perguntar, e eu lhe devolvo a pergunta: o que é isto? Beisebol, o que é isto?
Bom, agora já sei. Beisebol é aquele negócio que os americanos jogam, um atira uma bolinha e o outro rebate com um taco. E aí sai correndo. Os americanos gostam muito disto.
Mas aqui no Brasil, cara, o que é que a gente ia fazer com taco, e bolinha, e luva, e sei mais o quê? Quem é que compra essas coisas, cara? Quem é que joga beisebol, cara?
Deu para levar 700 reais, cara. Setecentos reais é que um jogador de beisebol americano ganha num minuto. Em meio minuto.
Mas eu já estou com o taco lá em casa, cara. E já estou treinando. Se esse negócio de assalto não der certo, eu aprendo a jogar futebol e me mando pros Estados Unidos. Lá, sim, o trabalho vale a pena.

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