São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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As surpresas do Plano Real

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Por ter participado do Plano Cruzado, tenho hoje posição privilegiada como analista do Plano Real. Pelo menos no entendimento de alguns fenômenos que têm ocorrido.
A estabilização da economia, desde 87, quando deixei o Banco Central, passou a me acompanhar de perto. A busca do entendimento da natureza e das causas da hiperinflação passou a ser um desafio pessoal.
Aprendi na prática a diferença entre a abstração teórica e a conjugação de uma vivência da execução de um programa de estabilização com a autocrítica. Certamente, meu amigo e sócio André Lara Resende trilhou caminho semelhante para criar a URV. Portanto, passo a fazer algumas considerações, sem o risco de presunção.
Começo pelo erro estratégico do PT, que pode lhe custar o poder, ao eleger o Plano Real como seu grande inimigo.
O primeiro erro foi sua incapacidade de entender o quanto a população odeia a inflação. Ódio curtido no sofrimento de ver os preços subindo diarimente. De sentir as armadilhas financeiras de uma desvalorização da moeda de mais de 2% ao dia ao ter que usar os serviços de um banco. De aprender a incapacidade de seu sindicato vencer na busca de ganhos na corrida distributiva com outros segmentos da sociedade.
O segundo erro do PT, e aqui os culpados maiores são seus economistas, foi não entender a lógica econômica do Plano Real. Acusaram o plano de recessivo, quando o aumento do consumo, principalmente nas classes C e D, era inevitável. Pela razão de que a conjugação da estabilidade do poder de compra dos salários com a redução dos juros nominais iria levar a um aumento nas compras a crédito.
E todo economista mediano sabe que, sem endividamento pessoal, a recomposição da capacidade de comprar a prazo levaria ao ajuste de estoque. E ajustes momentâneos de estoque, enquanto duram, têm força superior aos ajustes de fluxo.
O aumento do consumo vai reforçar nessas classes o sentimento de melhora que o Plano Real trouxe para suas vidas e aumentar ainda mais o desastre eleitoral de Lula.
Mas não foi só o PT que errou. O governo também cometeu algumas falhas. Mas isso fica para o próximo domingo.

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