São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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FHC fortalece política de juros do BC

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

Fernando Henrique Cardoso assumiu o compromisso público de, se eleito, manter em seus postos os atuais condutores do Plano Real. Todos, inclusive Ricupero.
A diretoria do Banco Central não precisava dessa promessa explícita para rechaçar, de todas as maneiras, as ameaças ao plano.
Desde quinta-feira, o mercado colheu sinais diretos e indiretos de que para enfrentar o aumento de consumo e a expansão monetária o BC recorrerá a um arsenal de providências, como restrições ao crédito e elevação dos juros.
Os indícios de que o BC quer a alta dos juros e que irá aplicá-la –Itamar Franco já não constitui empecilho à alta, pois tem, a rigor, apenas 35 dias úteis de governo se FHC vencer no 1º turno– são tão fortes que as instituições deram uma guinada radical em suas expectativas.
Todas as taxas de juros subiram com vigor. O CDI efetivo de agosto, estimado pelo mercado futuro, avançou de 3,99% para 4,08% e, o de setembro, de 3,45% para 3,59%.
A mudança mais surpreendente se deu, contudo, em relação à expectativa do custo do dinheiro para setembro. Uma ala numerosa do mercado já opera com a previsão de que o over de 5,28% não será mantido somente até o final de agosto. O BC tenderia a iniciar setembro também a 5,28%.
Essa taxa nominal num mês encurtado em dois dias úteis e de inflação menor significa ampliação do juro real. Faz sentido.
Em setembro, amplia-se o debate eleitoral. E FHC precisa mostrar o cumprimento da meta de emissão de R$ 7,5 bilhões às vésperas do 1º turno. Um over de 5,28% no mês dá um custo do dinheiro de 3,76% e um CDI de 3,79%.
O juro real de setembro precisa ser alto também para apagar a péssima impressão que deixará em agosto.
O Banco Central não conseguirá retomar este mês o curso normal da política monetária, de oferta de um juro real confortável, entre 1% e 1,5%, sobre o mais alto índice de inflação, a menos que promova uma forte elevação do over.
Tal como aconteceu em julho, é mais provável que se contente com o pagamento de juros levemente acima da inflação.
Isso porque estão se confirmando as previsões de um IPC-r salgado em agosto. Nesta semana, as instituições deslocaram a expectativa máxima de IPC-r de 3,5% para 4%, sob impacto do IPC-Fipe da primeira quadrissemana de agosto, de 5,68%.
Se for mantido o ritmo de queda do IPC-Fipe, a segunda quadrissemana irá superar 4% (o Departamento de Economia da "Agência Dinheiro Vivo" projeta um índice de 4,26%).
E o IPC-r pleno de agosto corresponde à segunda quadrissemana do IPC-Fipe, em termos de período de coleta. Se sustentar a taxa-over em 5,28% até o final do mês, o selic acumulará ganho de 4,21% e o CDI, de 4,10%.

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