São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Dizer 'não' ao chefe pode até ajudar

CLAÚDIA RIBEIRO MESQUITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sentir-se em uma situação delicada ao dizer "não" ao chefe é muito frequente. Quem nunca ficou constrangido ao ser protagonista de um desses acontecimentos?
Portanto, prepare-se. Contrariar ordens superiores não é privilégio de poucos. A sua vez vai chegar um dia. Até porque, para o psiquiatra Paulo Gaudêncio, 60, "dizer 'não' é prova de maturidade".
Mas qual a prática aconselhável nesses casos? Os estilos de comportamento variam de acordo com a personalidade dos profissionais.
Ser agressivo, passivo, assertivo, dissimulado, diplomático ou sincero são algumas possibilidades –nem todas convenientes.
Os modelos contemporâneos de gerenciamento, por exemplo, costumam difundir a franqueza como a base de um bom relacionamento entre os níveis hierárquicos.
Por isso, teoricamente, expressar o que se pensa é considerado uma prática saudável e produtiva.
"O sucesso de uma organização depende da inversão da pirâmide", afirma o consultor Odino Marcondes, 46, referindo-se à complementaridade dos papéis dos chefes e seus funcionários.
Ser um "yesman" –pessoa que só diz sim– é uma traço indesejável, diz Paulo Gaudêncio. Por isso, ao consentir em realizar uma tarefa que julga inadequada, o funcionário pode estar atrapalhando.
Trata-se de um comportamento dissimulado que costuma resultar em falta de compromisso e em um trabalho com maus resultados.
Mas o que ocorre, na prática, é bem diverso. "Não são poucos os bons profissionais demitidos por se posicionarem contrariamente ao chefe", afirma Cláudia Lessa, 47, consultora organizacional.
Segundo ela, os modelos autoritários de liderança ainda prevalecem. E adotar uma postura de sinceridade em conflitos pode ser um risco para o profissional.
Os programas de treinamento, qualidade e produtividade alertam para o problema e estimulam a abertura de canais de diálogo.
Mesmo assim, há quem não esteja preparado para contrariar –e ser contrariado– cruamente. Isso não significa acatar todas as ordens que venham "de cima".
"O mais comum é definir uma posição passível de retificação ou da qual se possa retroceder", avalia o psicanalista Mozart dos Santos, 52, diretor da Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte.
Para Cláudia Lessa, não há como escapar das "encenações". As relações nas empresas dificilmente são espontâneas e dizer não, em qualquer situação, é delicado, sobretudo nas mais rígidas.
Observar algumas regras pode ser prudente. A agressividade, por exemplo, é um comportamento que costuma ser indicado como inimigo nº 1 da boa negociação.
O profissional assertivo, por sua vez, é o que tem maiores chances de êxito. Essa postura, segundo Odino Marcondes, implica em conciliar necessidades internas da pessoa às pressões do meio.

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sobre negociação na pág. 7-3

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