São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Discussões se estendem por horas

CLÁUDIA RIBEIRO MESQUITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando foi convidada para assistir a uma peça publicitária produzida para a Rhodia, Maria Lúcia Zulzke, na época com 33 anos, não imaginou que enfrentaria uma tarefa árdua.
Ombudsman recém-empossada –fazia apenas três meses que ocupava o cargo– ela não concordou com uma das cenas do comercial.
Nela, uma modelo com um vestido rosa-choque, com fendas lateriais, deitava-se em uma cama de hospital para receber uma injeção, aplicada por uma freira.
Em meio aos dez profissionais da agência e dois gerentes da Rhodia, seus superiores, cravou um categórico "não" à peça.
"Todos emudeceram. Joguei um banho de água fria no entusiamo do grupo", afirma Maria Lúcia, que expôs durante mais de quatro horas os argumentos que sustentavam sua opinião.
Segundo ela, não se tratava de uma forma ética de apresentar medicamentos. Havia um clima de erotismo e também uma insinuação de automedicação, já que a "aplicação era feita quase que por indicação da modelo".
Já a consultora de empresas Paula Bove, 40, enfrentou dois tipos de situação. Quando tinha 24 anos, em seu primeiro emprego, contestou seu diretor quanto à demissão de um funcionário.
Três meses mais tarde, no entanto, foi obrigada a reconsiderar sua posição –a pessoa não aceitou uma advertência e começou a gerar problemas com colegas.
Essa primeira experiência não a impediu de se manter firme em seus "nãos" em outros momentos.
No ano passado, quando ocupava um cargo executivo em uma grande franquia, se posicionou contra seu presidente e conseguiu convencê-lo a fechar um negócio.
Ele achou imprudente selar uma venda de um território de franquia na reunião final, após seis meses de negociação.
Quando percebeu sua indecisão, Paula chamou-o para outra sala e defendeu a adequação dos dois sócios interessados no negócio.
As discussões se arrastaram por quase seis horas. "Foi uma situação muito tensa", lembra Paula. "Os sócios em uma sala, o presidente e eu em outra, todos juntos novamente..."
Paula se sente "recompensada" por ter mantido sua posição. Segundo ela, os sócios detêm hoje um dos territórios de grande sucesso da empresa no mercado.(CRM)

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