São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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E chegou o bobo Campeonato Brasileiro

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

E o Campeonato Brasileiro chegou, antes do tempo, aparvalhado, grande e bobo, trocando os pés pelas mãos. Tanto que a primeira rodada soa, para os paulistas, como um longo bocejo: Palmeiras e Paraná; Paysandu e São Paulo, coisas desse tipo. Ora, como essas primeiras fases não valem nada mesmo, claro que não é de se esperar dos candidatos ao título um empenho maior do que o de um treinamento coletivo mais puxado.
O tricolor, por exemplo, lutando pela inédita conquista do tri da Libertadores, vai de reservas mesmo. Praticamente aquele timinho que deu um vexame na Copa Bandeirantes, outra bobagem pautada por nossos incorrigíveis cartolas.
A propósito, nem mesmo o Corinthians, que levantou esse seu primeiro título do ano, ao empatar quinta-feira com o Santos, por 1 a 1, será o mesmo no Brasileiro. Pois Rivaldo se foi e chegaram os laterais Paulo Roberto e Branco, que haverão de dar um toque de classe ao setor mais precário da defesa corintiana.
Não importa tanto que sejam veteranos. O que importa é que ambos são muito superiores aos que estavam ocupando indevidamente as laterais. E ambos têm uma bomba em cada pé: o esquerdo de Branco e o direito de Paulo Roberto.
O Santos deu uma tacada no escuro e agora está mirando a mosca. Neto é imprevisível. Tanto pode submergir diante das pressões dos torcedores na Vila, como pode, rapidamente, transformar-se na estrela mais cintilante de um time sem estrelas, mas tocado com humor e jeito por Serginho Chulapa, bem ao estilo Casa Verde Alta –entre risos e porradas. Se vier Donizetti, então, comecem a tirar o chapéu para esse meio-campo.
Quanto ao Palmeiras, depois da desclassificação na Libertadores diante de seu maior rival da atualidade, o São Paulo, parece viver uma crise insuspeitada. De repente, desfez-se de Edílson e trouxe um lateral ofensivo, mas iniciante –Gustavo, do Guarani– e um atacante em xeque –Rivaldo, que, depois de rápida ascensão no Mogi e no Corinthians, amargava um período difícil no outro Parque.
Será que esse Palmeiras milionário e cada vez mais exigente terá paciência para recuperar Rivaldo? Tenho minhas dúvidas. Por isso, prevejo, para breve, chuvas e trovoadas sobre o Parque Antarctica, ao som das eternas cornetas.
Por fim, o tricolor preserva-se para a guerra da Libertadores. Na primeira batalha, saiu-se vitorioso, mas cheio de escoriações. Afinal, o pênalti marcado pelo juiz uruguaio em Palhinha, no jogo contra o Olimpia, do Paraguai, foi um escândalo. É bem verdade que o tricolor pode retrucar com o gol não assinalado pelo árbitro –a bola realmente ultrapassou a linha–, ou mesmo com o pênalti não marcado sobre Muller no segundo tempo. De qualquer forma, jogou mal o São Paulo e terá que suar sangue lá em Assunção.
Mas, mesmo que perca o tri na quarta-feira, restam, para o Brasileiro, as esperanças chamadas Alemão e Sierra. O que seria um bom recomeço.

Zagalo, afinal, foi sacramentado como nosso novo técnico. Novo, eu disse? Não seria apropriado, pois o velho Zagalo esteve presente, palpável na conquista do tetra. A entrada de Mazinho no lugar de Raí era uma tese zagaliana defendida abertamente. O estilo econômico, modorrento, capcioso de jogar era Zagalo puro.
Há quem suspeite que Zagalo ficará por ali apenas guardando lugar para a volta de Parreira, às vésperas da Copa da França. Não duvido.

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