São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Água para possível vida em Marte vinha do solo

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os marcianos –caso tenham existido– provavelmente nunca tiveram que se preocupar com chuva, embora não tivessem motivos para reclamar da falta de água. Marte já foi bem mais úmido e quente que hoje.
Uma nova análise de dados coletados por sondas espaciais, feita por um "meteorologista" interessado no clima marciano, indica que essa água teria surgido do solo, criando o relevo típico de vales e canais observável hoje.
Assim como na Terra, essa água marciana seria o local onde formas de vida teriam surgido no passado.
Não seria vida muito sofisticada. Caso Marte tenha mesmo tido marcianos, seriam algo como as arquebactérias ou os eócitos terrestres (leia texto abaixo sobre essas formas de vida).
Esses seres primitivos têm capacidade de sobreviver em circunstâncias aparentemente difíceis, como temperaturas da ordem de cem graus Celsius. Uma das teorias sobre a origem da vida na Terra, porém, argumenta que ela teria surgido em fontes hidrotermais submarinas, locais no fundo do mar de temperatura mais elevada graças ao calor interno do planeta.
O pesquisador Steven Squyres, da Universidade Cornell, de Ithaca, Nova York, um dos principais "cientistas planetários" especializados em Marte, analisou imagens feitas do planeta por uma série de sondas planetárias lançadas na década de 70, principalmente a Mariner 9.
Essas sondas produziram uma grande quantidade de dados que continuam sendo analisados. Como o estudo da geologia dos outros planetas é basicamente um exercício de comparação, mesmo descobertas sobre a Terra tendem a ser usadas na interpretação das imagens.
A erosão que as imagens das sondas mostram na superfície de Marte, segundo Squyres, parece mais a de um terreno que foi minado por águas subterrâneas –como um buraco que surge em uma rua onde um cano estourou. Essa conclusão foi mostrada em um artigo dele já em 89, na revista especializada }Astronomy.
O novo estudo, feito em parceria com James Kasting, da Universidade Estadual da Pensilvânia, e publicado recentemente na revista "Science", mostra como essa água fluiria pelo planeta.
Segundo os dois, "está claro que ambientes aquosos perto da superfície existiram em Marte no início de sua história, e poderiam ter fornecido condições muito mais favoráveis à vida do que as que existem hoje".
Marte não teria uma atmosfera tão grande a ponto de permitir chuva, segundo Squyres. Ele não acha que o calor antigo do planeta era originário de um efeito estufa, a concentração de certos gases na atmosfera que aprisiona calor e permite chuva. A água marciana se renovaria nos vales graças ao calor do solo, "geotermal".
Conhecer a geologia de Marte é essencial para saber onde procurar vida no planeta. Apesar de os cientistas acreditarem que ainda haja água debaixo da superfície marciana, dificilmente haveria vida "viva". Caso tenham existido arquebactérias marcianas, elas hoje são apenas fósseis.

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