São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Árvore da vida ganha ramo exótico

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

James Lake e Maria Rivera, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, criaram mais um ramo na árvore filogenética da vida para abrigar os estranhos seres unicelulares que têm estudado, os chamados eócitos.
Estes, antes colocados entre as arquebactérias, vivem em temperaturas de 100 graus ou mais e metabolizam o enxofre ("Science", 257, 74). Os eócitos ficaram assim num ramo acima das arquebactérias, que por sua vez se situam acima das eubactérias –os conhecidos micróbios como cocos, coli, salmonelas etc.
Acima dos eócitos vêm os eucariotas, organismos mais diferenciados, cujas células concentram num núcleo o seu material genético. Para os dois pesquisadores há nos eócitos caracteres próprios dos eucariotas que não se encontram nas arquebactérias. Nem todos os evolucionistas moleculares concordam com a inovação.
Segundo a maioria dos cientistas há um ancestral comum aos eucariotas e às arquebactérias. Estas formam uma classe toda especial de bactérias que têm estranhas maneiras de vida: algumas produzem metano, outras proliferam em ambientes muito salgados.
As árvores filogenéticas procuram situar os seres vivos conforme sua suposta descendência relativa. A primeira árvore desse tipo foi construída por Ernst Haeckel em 1886. Nela havia três reinos: animais, vegetais e protistas, este último grupo constituído por diversos microorganismos. Mais tarde surgiram os grupos dos fungos e das bactérias.
Atualmente a classificação mais difundida, e ainda muito controvertida, é a apresentada por Carl Woese, da Universidade de Illinois, que com seus colegas tentou pioneira descrição das diferenças moleculares que definem as divisões básicas da vida ("Proceedings of the National Academy of Sciences", 87, 4.576).
Nesse esquema desapareceu o papel preponderante dos antigos reinos animal e vegetal, que passaram a meros ramos de três domínios: Bacteria, Archaea e Eukarya.
Woese chegou a esse sistema em 1970, após examinar as diferenças e semelhanças entre várias classes de organismos, pela comparação das sequências de nucleótides (unidades dos ácidos ribonucléicos) dos genes que codificam os ribossomos, estruturas citoplásmicas nas quais o ácido ribonucléico, após decifrar o código genético, monta a proteína nele especificada.
Os cientistas estabeleceram como ponto de partida a hipótese de que esses genes devem ter estado presentes nos antigos ancestrais comuns aos modernos eucariotas (células com núcleo) e procariotas (células com material genético encerrado num núcleo). Concluíram que as arquebactérias são todas intimamente relacionadas e que, como grupo, são mais próximas dos eucariotas do que das eubactérias.
A partir de 1984 Lake começou a duvidar dessa classificação, quando percebeu, através do microscópio eletrônico, que os ribossomos dos eócitos (classificados em geral como arquebactérias) são estruturalmente mais semelhantes aos ribossomos eucarióticos do que aos das bactérias.
Prosseguindo nessa trilha Lake e Rivera fizeram o sequenciamento e a análise de determinada proteína (EF-Tu) e acharam uma sequência de 11 ácidos aminados que é igual em todos os eucariotas e eócitos, porém não se encontra nos outros grupos.
Os dados de Lake e Rivera são diversamente interpretados por outros especialistas, que criticam, por exemplo, o estabelecimento de ligações familiares apenas a partir da presença ou ausência de uma dada sequência de proteína.
Diversos aspectos do problema são impugnados por outros pesquisadores em contraposição àqueles que acatam os resultados dos cientistas da Universidade da Califórnia.

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