São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994 |
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Primeiro massacre faz 80 anos
RICARDO BONALUME NETO
No mundo anglo-saxão, a autora Barbara Tuchman foi estigmatizada como autora de "história popular" por acadêmicos que só deviam ser lidos por seus alunos (por motivo de força maior). Depois as academias se renderam a essa senhora que não só escrevia com fluência, mas tinha rigor e honestidade em suas pesquisas. Só não tinha paciência e tempo para perder fazendo um Ph.D. "O historiador acadêmico sofre por ter audiência cativa", dizia . Ela também não queria saber de dar aulas, pois se considerava uma escritora, não uma professora. Parte disso se explica por sua biografia. Barbara Tuchman (1912-89) também foi repórter, cobrindo, por exemplo, a Guerra Civil Espanhola. Em seus livros tenta "fazer o leitor virar a página". Repórteres sabem como é difícil atrair a atenção do leitor a cada parágrafo, sem descambar em sensacionalismo gratuito. E a história que ela conta nesse livro publicado em 1962 e ganhador do Prêmio Pulitzer dispensa artifícios retóricos: o primeiro mês da Primeira Grande Guerra, que completa 80 anos agora em agosto. A tese de Tuchman é simples. Nesse primeiro mês estão as sementes dos quatro anos que vieram depois. Ela não perde tempo com masturbações teorizantes. Segundo ela, agosto de 1914 foi o mês da "guerra de movimento"; depois os exércitos tiveram de se enterrar em trincheiras, de onde só sairiam em 1918. Também foi em agosto que foi determinado que uma revolução poderia então ocorrer na Rússia. A acachapante derrota russa para os alemães em Tannenberg foi um dos motivos. O outro foi a entrada da Turquia na guerra do lado das potências centrais (Alemanha e Áustria-Hungria). Isolada dos aliados ocidentais com o bloqueio do mar Negro, foi fácil à Rússia apodrecer até o ano de 1917. A idéia original da autora era fazer um livro só sobre um episódio do mês fatídico, a escapada do cruzador de batalha alemão "Goeben" e do cruzador leve "Breslau" até Constantinopla em uma brilhante manobra diplomática que fez pender de vez a Turquia para o lado alemão. Ela tinha dois anos de idade e "testemunhou" o episódio a bordo de outro navio no Mediterrâneo. Tuchman conta a história com a atenção de um repórter ao detalhe significativo. Um exemplo: a obsessão do exército francês de ir para a guerra de agosto com soldados vestidos com calças vermelhas. Para soldados imersos na tradição napoleônica, o uniforme vistoso "era a própria França". Para azar deles, o século 20 das metralhadoras e artilharia pesada começou em agosto de 1914. "OS CANHÕES DE AGOSTO", de Barbara Tuchman, Editora Objetiva, tradução de Eliana Sabino, 510 páginas, R$ 16,00. Texto Anterior: Virgindade cresce entre os jovens dos EUA Próximo Texto: Bebida garante poder de Kim Índice |
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