São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Virgindade cresce entre os jovens dos EUA

The Independent
De Londres

DAVID USBORNE

Uma nova palavra de ordem está começando a circular entre a juventude americana, e não tem nada a ver com discos ou aviões. É a palavra "virgem" –"vou me manter virgem". O movimento ainda é pequeno, mas está crescendo.
"Clubes de virgindade" estão sendo formados em escolas por todo o país e a abstinência sexual antes do casamento transformou-se em tema de revistas e televisões. A castidade é a nova contracultura 25 anos depois de Woodstock.
A força do movimento foi vista em Washington, onde os seguidores da campanha "O Amor Verdadeiro Espera", promovida pela igreja batista, plantaram no gramado diante do Congresso mais de 200 mil cartões brancos assinados.
Os dizeres eram radicais: "Por acreditar que o amor verdadeiro espera, eu me comprometo com Deus, comigo mesmo, com minha família, com as pessoas com quem sair, com meu futuro par e com meus futuros filhos a me manter sexualmente puro até o dia em que iniciar um relacionamento sacramentado pelo casamento".
A campanha foi fundada no início do ano passado pelo reverendo batista Richard Ross, que não está surpreso com seu sucesso.
"Muitos adolescentes só precisavam de um chamado claro e positivo à abstinência", disse ele.
Chad Jackson, 18, de Fairfax, Virgínia, entrou para a campanha em outubro passado. "Embora eu ainda não a conheça, já estou mostrando a minha futura mulher o quanto a amo", diz ele.
Rhianna Ayers, 17, joga no time de futebol feminino de sua escola, onde sexo e garotos dominam as conversas de vestiário.
Mas ela não se sente incômoda por ser praticante da castidade. "A maioria de minhas colegas transa, mas no meu grupo de amigas ser virgem é considerado 'cool"'.
O movimento tem ressonância política. Para a Direita Cristã, cada vez mais influente no partido Republicano, a pureza é o cerne da doutrina dos "valores familiares".
Até Clinton está atento. Os planos de revisão do sistema de seguridade social dos EUA, anunciados no mês passado, incluem proposta de gastar US$ 400 milhões no ensino da abstinência, nas escolas.
"Parece ser uma idéia cujo momento chegou", diz a médica Marion Howard, que há dez anos promoveu projeto de abstinência no sistema escolar de Atlanta.
Ela se inspirou depois de fazer uma pesquisa de educação sexual entre garotas adolescentes e descobrir que 82% delas queriam saber dizer "não" quando pressionadas.
O curso "Adiar o Envolvimento Sexual" tornou-se modelo para o programa de Clinton.
Segundo os dados de Howard, os adolescentes de 13 e 14 anos que fazem o curso na escola têm probabilidade quatro vezes menor de praticar sexo do que aqueles que não o fazem.
Com o aumento de idade a diferença se reduz, mas permanece significativa. Apesar disso, ela acredita que mesmo as crianças de 9 e 10 anos sofrem grande pressão para experimentar o sexo. "Elas acham que o sexo faz parte do namoro, simplesmente."
Um dos fatores chaves do programa de Howard são os "líderes teens" que ministram o curso.
Uma delas é Jane Rutland, 16. "Nos tornamos modelos. Ensinamos a importância da amizade e de não fazer o que todos os outros fazem. Acha que está havendo uma mudança. Mais pessoas estão resolvendo se abster do sexo".
Tradução de Clara Allain

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