São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Viva a ineficiência

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Está disposto a sair da semiclandestinidade auto-imposta um certo Iedi (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial). Trata-se de um grupo formado por empresários de grosso calibre, seja pelo volume de negócios, seja pela massa encefálica.
Nos últimos cinco anos, esse pessoal andou estudando o tema que dá título ao instituto e, agora, começa a achar que está na hora de expor publicamente suas idéias e inquietações.
O Iedi está incomodado com a perspectiva de que a indústria brasileira se transforme em mico-leão, espécie em vias de extinção, como costuma brincar Paulo Cunha (grupo Ultra), talvez o mais falado e menos visto dos empresários brasileiros.
O leitor intoxicado pela hegemonia do discurso neoliberal vai achar que esse pessoal quer proteção, cartórios etc. Engano. Não são contra a abertura da economia, mas pedem –e é justo– que se faça sincronizadamente o resto. Exemplo, também de Paulo Cunha: uma petroquímica no Brasil idêntica em tudo a uma americana precisa de um preço cerca de 50 vezes maior para obter o mesmo resultado.
Motivos, entre outros: 1) o custo de um insumo básico (dinheiro) é aqui pelo menos quatro vezes maior do que lá; 2) a carga tributária é exagerada, se se considera que metade dela é simplesmente sonegada.
O pessoal do Iedi chega à ousadia de defender que setores eventualmente ineficientes devem, sim, ser protegidos. Paulo Francini (Coldex/Frigor) diz que, no Japão, chega a haver duas vezes mais etapas entre a matéria-prima e o consumidor final. Claro que o custo aumenta, mas, em contrapartida, criam-se ou se mantêm os empregos (o desemprego japonês, mesmo na fase final de uma recessão, é a metade do americano, em plena etapa expansionista).
Completa Eugênio Staub (Gradiente): a eficiência de uma economia se deveria medir nem tanto pelos resultados de uma empresa ou setor mas pela capacidade de produzir bem-estar, que é, afinal, o que realmente interessa à maioria.
Para tanto, o Iedi acha fundamental incorporar à agenda brasileira a questão central que é a da produção e, por extensão, do emprego. Como emprego é também o tema de todos os candidatos, a hora é agora.

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