São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Lula lá embaixo

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Pesquisa Datafolha publicada hoje explica num único número a devastadora crise do PT: 33% dos eleitores de Lula consideram o presidente Itamar Franco "bom ou ótimo"; 47% optaram pelo "regular". Traduzindo: Lula não consegue sensibilizar nem mesmo uma imensa fatia de seus eleitores para o discurso oposicionista.
Reunido em São Paulo, o Diretório Nacional do PT foi cenário de um desfile de lamúrias e trocas de acusações. Eles tentam entender por que Lula desaba –e como mudar o tom da campanha. Já estão preocupados até mesmo em perderem no primeiro turno.
A verdade é simples. Lula cresceu e prosperou enquanto tudo dava errado no país. Fácil subir nos palanques, defendendo que é necessário "mudar tudo o que está aí". Seu sucesso estava, essencialmente, sustentado no fracasso.
No clima de sinistrose, as fragilidades do PT não ficaram tão visíveis à opinião pública: a dificuldade de se fazerem alianças capazes de sustentar Lula quando virasse presidente; os aloprados que conquistaram posições estratégicas no partido; a falta de generalizada convicção sobre o valor da democracia.
Quando veio o Real, abriu-se um buraco por baixo de Lula. Os eleitores experimentaram a sensação do sucesso, satisfeitos com os preços estáveis –a indicação está, por exemplo, na popularidade de Itamar Franco até entre os eleitores de Lula.
O PT estava tão acostumado a administrar a seu favor a desgraça alheia que, lançado o plano, saiu batendo. Ficou falando sozinho. Chutaram uma lata que escondia uma pedra.
Ao invés de mostrar prioritariamente o que poderia fazer no futuro, o PT resolveu centrar seu discurso no que os aliados de Fernando Henrique Cardoso fizeram no passado. Chegou a ponto de tentar identificar uma ressurreição de Fernando Collor.
Ou seja, não mostrou o que pode fazer, mas o que os outros fizeram. O PT, na prática, está jogando fora sua excepcional experiência acumulada na luta contra a miséria.
PS – Ainda tem tempo para virar o jogo. Mas depende de um fato novo –só discurso vai ser difícil. Por isso, militantes do PT procuram desesperadamente algum documento capaz de atingir a honra de Fernando Henrique Cardoso.

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