São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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"Reeducar" a consciência

FLÁVIO FAVA DE MORAES

O sistema educacional brasileiro precisa, pode e deve melhorar muito. Certamente não há discordância quanto a esse ponto. Os diagnósticos para os problemas enfrentados pela educação são múltiplos, mas não necessariamente conflitantes. Mas uma questão sempre aparece: a quem cabe a responsabilidade pela elevação da qualidade do ensino?
Aqueles que colocam a maior carga de responsabilidade nos governos federal, estaduais e municipais estão em parte corretos. Considerar a educação como prioridade é tarefa governamental mas, antes de tudo, de todos nós como cidadãos ou, transitoriamente, como gestores de bens públicos.
Há décadas o sistema de ensino brasileiro, público e privado, em todos os seus níveis, vem sendo alvo de debates. No entanto, é forçoso reconhecer, pouco se avançou na prática.
Milhares e milhares de crianças continuam fora da escola; o que deveria ser um esforço nacional para um processo continuado de alfabetização de adultos resumiu-se a iniciativas isoladas; o número de vagas no ensino superior público, como um todo, não se ampliou substancialmente, e muitas universidades públicas e centros importantes de pesquisa continuam sofrendo da crônica falta de recursos.
Esse beco é apenas "aparentemente" sem saída. E a saída está na consciência de cada um, a seu modo e em seu meio específico de atuação.
Esse esforço, no entanto, por melhor intencionado que seja, não pode se transformar em campanhas episódicas e circunstanciais, pois não se trata mais de chamar a atenção para um problema que é visível.
A partir desse momento, o que o país precisa, no campo da educação, é de programas que se desenvolvam a médio e longo prazos, e que não sofram solução de continuidade.
A USP (Universidade de São Paulo), ao longo de seus 60 anos de existência, sempre representou a sociedade. Uma universidade, notadamente a pública, não é "apenas" escola de terceiro grau para a formação de profissionais qualificados. Só nesse papel ela já oferece uma inestimável contribuição ao país. Mas, no nosso caso, mantemos mais de 3.000 projetos de extensão universitária há anos como programa institucionalizado, numa permanente interface com sociedade.
Alguns desses projetos contemplam especificamente o aperfeiçoamento e a atualização de professores do ensino público e médio. Isso é atribuição da universidade? Entendemos que sim, pois programas desse tipo caminham lado a lado com os cursos regulares de licenciatura.
Programas de cooperação técnica com instituições privadas ou públicas dependem de pessoal especializado que a USP forma no seu considerável número de cursos de licenciatura. As relações acadêmicas com os sistemas de ensino são mutuamente benéficas, propiciando uma dinamização de estruturas e processos educacionais.
Os meios de comunicação, recentemente, passaram a dedicar não só mais espaço para o noticiário como também para o debate sobre educação.
Qualquer iniciativa voltada para a distribuição gratuita de material didático, desde que atualizado e de qualidade previamente fundamentada por especialistas, também é um passo importante para valorizar o ensino. As concorrências mercadológicas que venham a surgir nesse sentido só podem ajudar e serão bem-vindas.
A consciência da importância da educação precisa ser de todos. O exercício da qualidade dado por países que vêm apresentando elevado desenvolvimento não ocorreu por decreto. Mas pela vontade e pela ação de um povo.

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