São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Meios de comunicação, educação e cidadania

ARTHUR ROQUETE DE MACEDO

Levar às residências, às escolas e aos locais de trabalho instrumentos de informação atualizada constitui um esforço de instituições preocupadas quer com seu próprio aperfeiçoamento interno quer com a qualidade das relações sócio-culturais que fortalecem a difusão e a democratização do conhecimento.
A iniciativa de informar se caracteriza como um procedimento educativo, inserindo-se num amplo e importante contexto de inter-relação dos meios de comunicação com a educação. Este nos parece o caso da edição do atlas que a Folha de S. Paulo passa a distribuir aos seus leitores.
Esse fato deixa evidente a existência de um laço necessário entre a escola e a mídia na constituição, consolidação e preservação da cidadania. Enquanto uma tem a função básica de formar o cidadão, a outra desempenha o não menos importante papel de mantê-lo, por meio do noticiário, do debate e da crítica, permanentemente alerta acerca de acontecimentos e assuntos cujo desconhecimento ou ignorância colocaria em risco o exercício pleno da cidadania.
Nesse sentido, as ações da escola e dos meios de comunicação convergem para o mesmo fim, que é a plenitude da participação do indivíduo na sociedade.
A contraprova mais flagrante da existência, da importância e do êxito desse enlace se verifica nos regimes autoritários.
Na mesma medida e ao mesmo tempo em que a escola, nesses regimes, se obriga a cumprir mais o papel de alienar e menos o de formar o cidadão, os meios de comunicação, por meio da censura ou da cooptação, violentam sua própria natureza: passam a omitir informações, a desviar-se das notícias e dos debates que reflitam a realidade do país, base e referência para as ações de cidadania. Passam, enfim, a refletir os interesses do poder.
Nas democracias, porém, se confirma a valorização da moeda em que numa face está gravada a escola e na outra, os meios de comunicação, ambas com o metal nobre do livre e responsável exercício do pensamento. Esse é um fenômeno mundial que certamente sei vai confirmando no Brasil.
O outro aspecto a ser ressaltado é o papel que os meios de comunicação devem desempenhar no Brasil no sentido de fortalecer a consciência nacional sobre a importância da educação em geral e da escola pública em específico. Se quiser ascender aos padrões de vida do Primeiro Mundo, o Brasil precisará de cidadãos conscientes e profissionais capacitados –e isso só é possível com uma boa escola.
As duas principais alternativas escolhidas por este país –a escola pública e a escola particular– enfrentam enormes dificuldades para oferecer a formação que o mundo de hoje exige. Somente uma consciência nacional fortalecida a respeito da importância da educação poderá fazer com que o Estado amplie sua responsabilidade na oferta e na gestão do ensino que oferece.
Nesse sentido, vejo na atitude da distribuição de um atlas o sinal de que, ao lado de legítimos interesses comerciais, está implícito um compromisso maior com a cidadania e com a educação.
Nossa expectativa é que os meios de comunicação em geral passem a dedicar mais espaço em suas páginas e tempo em suas programações a esse importante e inadiável tema: a educação como alavanca para conduzir o Brasil e os brasileiros a níveis mais elevados de qualidade de vida.

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