São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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VERA NÃO EXISTE

SÉRGIO DÁVILA

Na verdade, Vera Fischer não existe. Sua história é toda improvável, inverossímil até para folhetins. Num átimo, ela usa a mesma frase para ir dos píncaros da sutileza dos sábios aos baixos de um barraco no metrô. Ontem volúvel, amanhã virtuosa, Vera é várias. Ela está na sua e na minha imaginação como queremos que ela seja. À Vera, cabe desempenhar o papel –o que vem fazendo à perfeição desde 1969, quando foi eleita Miss Brasil e saiu de Blumenau para o país.
Diz a tirada que o homem coloca a mulher num pedestal, para olhar por baixo de sua saia. Como já se falou sobre o fenômeno Sharon Stone, os homens primeiro viram debaixo da saia de Vera Fischer –para depois colocá-la num pedestal. No começo de sua carreira, nos anos 70, protagonizou oito pornochanchadas (produções baratas de nomes como "A Superfêmea" ou "As Mulheres que Faziam Diferente" cujo objetivo era mostrar a jovem miss nua). Foi jurada e objeto.
Hoje, aos 42 anos, dois filhos, dois casamentos, 12 filmes sérios, quatro peças sérias, oito novelas e três minisséries depois, a catarinense Vera Fischer pode ser chamada de atriz. Sua presença nos pedestais atrai público. E ela nem precisa tirar a roupa. Agora, interpreta a "vencedora". "A cada dia que acordo penso na frase: 'Eu mostrei a eles"', diz. "Penso no leão que tenho que matar diariamente para eles".
"Eles" estão interessados no papel atual? É só ver "Desejo", do dramaturgo Eugene O'Neill, sucesso de público que estréia em São Paulo em meados de setembro. Na peça, Vera é Abbie, mãe neurótica e assassina. Ou a bem-sucedida novela "Pátria Minha", de Gilberto Braga, em que faz Lídia Laport, oportunista que usa tudo (corpo incluso) para fugir da classe média. Traços da personalidade de Vera? Não, ela não é nenhuma das duas –e pode ser, depende do dia. "A pessoa nunca é só má-má ou só boazinha", define.

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