São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 1994
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Canadenses expõem obras em fotomontagem

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Exposição: Fotomontagem canadense
Artistas: Karl Beveridge e Carole Condé
Onde: MAC Cidade Universitária
Quando: Inauguração hoje. Até 18 de setembro

Revistas com os títulos "Fuse", "Fireweed" e "Dimension" embaralham-se sobre uma mesa caótica, circundada por um velho, uma mulher negra, uma indiana. Como pano de fundo, um céu enuviado, pontuado de imagens televisivas é rasgado com um porta. Através dela entram seres com cabeças de "Time", "Fortune", "Newsweeek".
A obra de fotomontagem "Free Expression" (1989) é emblemática da agenda política do casal de artistas canadense Karl Beveridge e Carole Condé. Neste caso específico, o trabalho retrata a extinção de publicações nacionais e a invasão das americanas como exemplo da perda de identidade cultural decorrente da economia de livre mercado entre Canadá e EUA.
Além desta, outras 39 obras, em cartaz na exposição do MAC, contam diferentes histórias com implicações sócio-políticas, sobrepondo foto, pintura e texto. Entre elas, há séries sobre a evolução do trabalho feminino no Canadá, comentários a respeito de questões ambientais ligadas a acordos nucleares e condições de trabalho de operários numa indústria de papel.
"A arte política está voltando à cena em decorrência de dois fatores básicos. O primeiro está ligado à própria estagnação do mercado, que faz com que o papel da arte seja redefinido. O segundo acontece em resposta à exaustão dos valores materiais estabelecidos nos anos 80. No cenário internacional, tudo leva a um questionamento da representação em termos de raça, minorias políticas, etnias", testemunha Beveridge, que está em São Paulo e dará uma palestra sobre o assunto no MAC no dia 17 de agosto, às 17h.
Beveridge, 48, e Carole, 53, conheceram-se em Toronto, onde já trabalhavam individualmente como escultores. Foram morar em NY em 1969, época fervilhante de flower and power, da arte conceitual, do movimento feminista.
Apesar da inspiração nostálgica, em suas estratégias na utilização das mídias artísticas, Beveridge e Carole estabelecem uma conversa com outros artistas cosmopolitas e recriam a chamada "nova narrativa", definida artisticamente pela fusão de linguagens, fenômeno típico dos anos 90.
Na apropriação do texto sintético, ora poético, o casal se aproxima da arte de Jenny Holzer. No uso deste texto colado a imagens quase publicitárias, ele se liga às obras de Barbara Kruger. E na técnica da fotografia encenada, ele dialoga com as performances fotográficas de Cindy Sherman.

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