São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 1994
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Cineasta faz curta sobre Iberê Camargo

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O cineasta Joel Pizzini vai fazer um documentário sobre a obra do pintor Iberê Camargo (1914-94), morto há uma semana. O filme, que será rodado em cinema e vídeo, será um curta-metragem de 15 minutos intitulado "O Pintor".
O documentário foi sugerido pelo próprio Iberê no ano passado, quando Pizzini lhe pediu que desse um depoimento sobre Giorgio De Chirico, para o seu filme "O Enigma de um Dia", inspirado numa tela do pintor italiano.
Iberê, que foi aluno de De Chirico em Roma, respondeu então, segundo Pizzini: "Meu mestre está morto. Paguei todas as aulas que tive com ele. Se você quiser fazer um filme sobre a minha obra, podemos conversar".
Iberê deveria aparecer no filme. O projeto estava sendo adiado até que o pintor se sentisse fisicamente apto a participar dele (leia carta ao lado).
A morte de Iberê modificou os planos iniciais. A idéia de Pizzini é mostrar "o valor dramático da sua obra, através das oposições que marcam cada uma de suas fases".
Não haverá depoimentos de críticos e acadêmicos no filme, mas só de pessoas que tiveram contato direto com Iberê: sua viúva, Maria Camargo; uma empregada que lhe servia de modelo; o fotógrafo Mario Carneiro, que teve aulas de pintura com o artista. Carneiro, veterano que colaborou com Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade, vai fazer a fotografia do filme.
Iberê concordou em ser filmado por Pizzini depois de ver um curta-metragem anterior do cineasta, "Caramujo Flor", sobre o poeta Manoel de Barros. Elogiou o filme, qualificando suas imagens de "muito limpas", e escreveu uma carta autorizando o diretor a fazer um documentário sobre ele.
Pizzini deve começar a filmar "O Pintor" dentro de um mês. Antes disso, ele vai rodar "O Enigma de um Dia", curta-metragem que mistura ficção e documentário ao falar do quadro homônimo de Giorgio De Chirico, que está no MAC em São Paulo.
Em "O Enigma de um Dia", que começa a ser rodado no próximo sábado, em São Paulo, com fotografia de Mario Carneiro, o protagonista será o veterano Leonardo Villar, que volta ao cinema depois de 25 anos de ausência.
Villar será o vigia do museu onde está o quadro de De Chirico. O próprio pintor será interpretado pelo crítico Leo Gilson Ribeiro.
E a atividade de Joel Pizzini não pára por aí. Ele está editando por estes dias o curtíssimo vídeo "O Javali de Erimanto" para o próximo Festival do Minuto de São Paulo. O vídeo faz parte da série "Os Doze Trabalhos de Hércules", coordenada por Tata Amaral e Sérgio Martinelli.
No episódio de Pizzini, Hércules é interpretado por um menino de rua que vive sob o viaduto Paulista-Consolação, e o javali é um carro-forte que invade uma favela.
Além disso, o cineasta se prepara para filmar no ano que vem o documentário "500 Almas", cujo roteiro foi premiado com US$ 30 mil pelas fundações norte-americanas MacArthur e Rockfeller.
"500 Almas" é sobre os pouco conhecidos índios Guató, que vivem numa ilha fluvial no Pantanal, em quase total isolamento.

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