São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 1994
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Envolvimento em terror foi superestimado

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A penitenciária parisiense da Santé, no arborizado boulevard Arago, tem agora entre seus hóspedes o mais mórbido representante do terrorismo nos anos 70.
O período foi pródigo em atentados e Illich Ramírez Sánchez foi seu maior representante.
Não que sua capacidade operacional o levasse a comandar boa parte das ações que lhe foi por anos atribuída.
Mas os serviços de segurança da França, Alemanha, Turquia e sobretudo Israel não estavam o bastante aparelhados para o desmantelamento dos grupos extremistas.
Por via das dúvidas, levantavam a suspeita de que Chacal estava envolvido e involuntariamente o transformavam num personagem de estatura bem maior que a real.
A verdade é que havia interligação operacional entre organizações clandestinas que não hesitavam em partir para prova de força ao preço de vítimas desarmadas.
O Exército Vermelho, descendente tardio dos "zengakuren" (movimento estudantil) do Japão, tinha vínculos com facções palestinas como a FPLP (Frente Popular de Libertação da Palestina).
O mesmo ocorria com autonomistas corsos e bascos, com a Rote Armee Fraktion (Grupo de Andreas Baader, da Alemanha) e, em proporções bem menores, com as Brigadas Vermelhas, na Itália.
Essa "internacional do terrorismo" não era de todo oficiosa. Recebia cobertura do líbio Anuar Gadafi e o sírio Hafez al Assad.
Em 1989, Gadafi assumiu de público o que os serviços de inteligência ocidentais já sabiam desde que ele chegou ao poder em 1973: a Líbia forneceu apoio logístico direto para atentados terroristas.
Outros governos, como o de Cuba e da Argélia, embora afirmando estar comprometidos com o que designavam de "movimentos de libertação nacional", tornaram-se cúmplices por formarem quadros militares do terrorismo.
Por fim, os países do Leste Europeu, principalmente a então URSS, mantinham uma reserva de agentes para ações sangrentas fora de seus territórios.
As tarefas sujas ocorriam num mundo de múltiplas tensões. O Oriente Médio, a Guerra Fria, a ditadura militar na Turquia ou a luta pela independência da Namíbia permitiam o recrutamento numeroso de voluntários.
Estes, por sua vez, mantinham contato pessoal em campos de treinamento, mesmo se apresentados uns aos outros com identidades fictícias.

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