São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Aqui no Haiti

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – Virou moda comparar a miséria brasileira com a do Haiti. Principalmente por causa da música de Caetano Veloso, agora tema da novela, aquela que afirma que "o Haiti é aqui".
Antes se dizia que o Brasil era uma autêntica "Belíndia", distintas porções da desenvolvida Bélgica –a porção pequenina– com uma enorme massa comparável aos miseráveis da Índia.
Basta correr os olhos por alguns dos cantões de pobreza que pululam pelo Brasil afora, assim como basta mirar a infinidade de ícones do Primeiro Mundo disponíveis aos mais abastados, para se concluir que ambas as comparações são legítimas.
Essa conversa pode até parecer aquela do roto que fala do esfarrapado. Mas veja que a situação brasileira não é (ainda) o fim da linha.
Estudo da ONU obtido ontem aqui no Rio dá conta do seguinte:
Aproximadamente 1,1 bilhão de pessoas –o que significa 30% da população dos países em desenvolvimento– ganham apenas US$ 1 por dia. Ou seja, no final do mês têm apenas o equivalente à metade de nosso salário mínimo.
Conforme dados do IBGE, "apenas" 20 milhões de brasileiros vivem em situação semelhante (nada recebem, estão desempregados ou têm rendimento inferior a um salário mínimo).
Isto significa que a situação que aflinge um terço ou mais da população de países em desenvolvimento, aqui é enfrentada por 14% da população.
Claro que não há motivo algum para júbilo; ao contrário, uma vez que os números indicam apenas que o nosso imenso problema é muito maior em outras plagas.
Mas dados como esses podem perfeitamente servir de estímulo a todas as forças que atuam para tentar levar este país em direção à modernidade.
Como não poderia deixar de ser, a coordenação do Movimento Viva Rio não apóia ações isoladas do Exército nos morros da cidade, como as ocorridas no último fim-de-semana. Defende a ação conjunta e coordenada das forças municipais, estaduais e federais.
Além disso, é fundamental que a sociedade civil acompanhe este tipo de ação, que deve obrigatoriamente estar amparada na lei. Senão, a coisa degringola.

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