São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 1994
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Andando e aprendendo

JOSÉ SERRA

Quem faz campanha eleitoral anda muito, fala muito e ouve muito, ouve, desde logo, numerosas observações inteligentes e proveitosas.
Por isso, à margem das pesquisas de opinião feitas por institutos especializados e em geral competentes, tenho feito minhas próprias sondagens nas palestras e no corpo a corpo da campanha eleitoral em todo o Estado.
Primeira conclusão interessante: comparativamente às duas ou três campanhas anteriores, o interesse da população pelas próximas eleições parece elevado. Curiosamente, aliás, em grau diretamente proporcional à birra desenvolvida contra os políticos e especialmente contra os parlamentares.
Em segundo lugar, constata-se a baixíssima audiência do horário eleitoral gratuito, principalmente do segmento relativo aos candidatos a senador, que dispõem de um tempo ínfimo para expor suas propostas. Desde que esse horário começou, encontrei apenas um cidadão, no interior de um boteco em Poá, que mencionou algo que eu disse no referido horário.
A imensa maioria não assiste; quando assiste, não lembra de ter visto algum candidato a senador; quando lembra, não sabe o que ele falou. Chego a escutar mais referências a esta coluna da Folha, que sempre supus de pequena leitura, do que as minhas aparições no horário gratuito!
Em terceiro lugar, a campanha de rua revela com clareza, para quem quiser enxergar, o sentimento positivo da população em relação ao Plano Real. Não se trata de uma euforia no estilo do Plano Cruzado em seu início, mas rigorosamente de uma expectativa favorável, que enfatiza a idéia de uma moeda estável, cujo valor não se derreta a cada dia.
Essa expectativa existe inclusive entre os que mais reclamam, com razão, de suas precárias condições de vida. Há uma espécie de percepção intuitiva de que, sem moeda forte, não pode haver salário forte, nem crescimento sustentado, nem ampliação do emprego.
Em quarto lugar, a ligação entre o real e o candidato Fernando Henrique, que as pessoas estabelecem, parece ser mais ou menos a seguinte, de forma estilizada: "Ele criou o real; o real é bom; portanto, é melhor tê-lo presidente para que o real se mantenha e outras medidas boas sejam tentadas".
Que fique claro: mesmo antes do lançamento da nova moeda, em 1º de julho, já havia uma avaliação positiva sobre a capacidade de Fernando Henrique de propor mudanças concretas e obter o apoio necessário para realizá-las. O que se verificou, posteriormente, foi o reforço dessa tendência.
Por último, é interessante notar a quase absoluta ausência das questões que ocuparam ou ocupam o noticiário da imprensa e o bate-boca de setores médios intelectualizados, como a aliança PSDB-PFL, o "caso" Bisol ou o "caso" Palmeira. O interesse da maioria das pessoas está centrado no candidato e nas chances de que, com ele, mude alguma coisa em benefício de suas vidas.

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