São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 1994
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A reviravolta

JANIO DE FREITAS

A combinação de silenciar o princípio de crise, para evitar sua repercussão negativa em momento tão favorável à candidatura, não foi suficiente para encobrir o confronto instaurado no comando da campanha de Fernando Henrique por sua anunciada ausência, afinal reconsiderada, ao debate na Rede Bandeirantes.
A idéia de recusar o debate não foi submetida ao exame do comando da campanha, como estaria em suas atribuições definidas com o candidato. A idéia foi de um só dos membros do comando, Sérgio Motta, que dela tratou com Fernando Henrique sem ao menos dar conhecimento ao restante do grupo. Além desse problema funcional, houve a divergência também quanto à deliberação: salvo o patrono da ausência, os demais integrantes do comando da campanha eram favoráveis ao comparecimento.
Dois motivos principais uniam a maioria do comando. Dado o esperado desempenho eficiente de Fernando Henrique, a participação era vista como favorável à sua candidatura, e não arriscada para a atual liderança nas pesquisas, como entendiam Sérgio Motta e o próprio candidato. Em complemento a este primeiro motivo, a ausência é que era vista como possível fonte de desgaste. No começo da semana passada, antes que aparecessem as pesquisas que o puseram em primeiro lugar, Fernando Henrique desafiara Lula, publicamente, para um debate. Sua recusa a debater, agora, seria explorada, talvez já no próprio debate, com grande possibilidade de provocar desgaste.
Exaltados uns, e outros não menos aborrecidos mas mais contidos, os favoráveis ao comparecimento convocaram uma reunião do comando para a tarde de ontem. Pelo clima que precedeu o encontro, estava evidente que alguma decisão importante sairia, prestigiando a maioria do comando ou aprofundando a crise. Ao final da tarde, Fernando Henrique, mesmo tendo anunciado amplamente que não compareceria, com o frágil pretexto de que sua agenda o impedia, voltava atrás e iria ao debate.
Contra a saúde
Em carta à Folha, o ministro da Previdência Social, Sérgio Cutolo, atribuiu a "especulações, digressões e incompetência" os números aqui publicados, sobre repasses devidos pela Previdência ao Ministério da Saúde. Transcrevo, a propósito, um trecho de documento:
"Apesar do quadro dramático na área de doenças endêmicas (cólera, dengue, malária, etc.), a Fundação Nacional de Saúde não tem tido recursos suficientes para combatê-las de maneira eficaz. Não foi possível, pelo mesmo motivo, o fornecimento de medicamentos básicos em quantidade suficiente para as unidades de saúde pública. Tais fatos foram determinados pela suspensão ilegal dos repasses da Previdência Social, a partir de 1993, da ordem de US$ 250 milhões/mês e pelo atraso de 70 dias no repasse, pelo Ministério da Fazenda, dos recursos financeiros devidos a este Ministério" (da Saúde).
As informações aqui publicadas foram retiradas deste trecho do documento, que é o Aviso nº 632/GM, datado de 21 de junho de 94 e mandado à presidente do Tribunal de Contas da União, ministra Élvia Castello Branco. Se os números que divulguei "resultam de especulações e digressões" e de "incompetência de quem os elaborou", Sérgio Cutolo dirige-se, é claro, ao autor do Aviso. É o próprio ministro da Saúde, Henrique Santillo. Se não me excedo, sugiro a Sérgio Cutolo que se refira a seus colegas de ministério em termos mais educados.

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