São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 1994
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Debate do líder

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique deu uma desculpa das mais esfarrapadas, para sua relutância em participar do debate na Bandeirantes.
"Nós não podemos fazer tanto debate", afirmou, já no estúdio. "Hoje eu não queria vir. Achava que era debate demais."
Está certo, ao dizer que é debate demais, mas não foi a razão. Ele não queria estar lá pelo mesmo motivo por que nenhum favorito quer debater, seja Collor ou Lula. Não dar chance aos demais.
Estava certa a estratégia. Mas deu mais certo ainda a presença do candidato no debate. Ele foi claro, firme, superior, num debate que, ao contrário do prometido, não permitiu maior confronto.
Bem que Lula tentou. Mas foi infeliz o petista. Na sua primeira interferência, já saiu dizendo "eu fico indignado", com expressão indignada. Até com razão: falava do acordo do candidato tucano com os coronéis do PFL.
Acontece que a comparação na televisão nunca é de fundo, mas de impressão, de imagem. E a imagem que ficou foi de um Lula –não só naquele momento, mas em tudo– indignado, tenso. Em oposição ao calmo FHC.
FHC que teve sorte em tudo, até no sorteio. No debate direto, por exemplo, não caiu com Lula.
Primeiro, foi questionado por Esperidião Amin, com quem só trocou afagos e elogios. Depois, debateu com Leonel Brizola, que não estava em seus melhores dias de retórica. Por fim, com Orestes Quércia, também ele muito longe da força dos velhos tempos.
Todos ao real
Tem voto para todos, no real. Pelo menos é o que aposta Orestes Quércia, que cresceu menos do que esperava, com o atestado da Justiça e com o horário eleitoral. Ontem o candidato já apareceu na Rede Cultura elogiando o plano, dizendo que vai dar continuidade às suas medidas etc.
Nenhuma palavra, é claro, das tentativas de derrubar o mesmo real, logo que ele apareceu para aprovação no Congresso.
Caminho semelhante, de igual oportunidade eleitoral, parece ser o que foi escolhido pelos antigos comunistas, do PPS. São alguns poucos, garantia Roberto Freire, na CBN. Alguns poucos que antes pareciam apoiar Lula e agora estão com o plano. Como eles, Pedro Simon, líder do PMDB. Também Simon "aderiu", anunciou ontem o Jornal Bandeirantes.
Seguem todos um caminho que foi desenhado pelo próprio Lula, quando abriu a sua propaganda eleitoral dizendo apoiar o plano. Foi um dia só, o primeiro. Lula acreditou ser o bastante –e agora é tarde. Não é mais possível uma adesão convincente ao real.

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