São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 1994
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O tetra da educação

ARNALDO NISKIER

Vivemos uma fase de comemorações esportivas, com dois campeonatos que encheram os brasileiros de alegria: a conquista das meninas do basquetebol na Austrália e o feito dos companheiros de Romário nos Estados Unidos. Um tetra pra ninguém botar defeito.
Agora, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) divulga um relatório que coloca o Brasil muito mal: temos a pior taxa do mundo de crianças com menos de 5 anos de escola; em relação à média internacional, estamos em último lugar dentre os que investem em educação; na América Latina, ficamos em último lugar em termos de matrículas no ensino médio; somente 5% das crianças matriculadas no ensino fundamental conseguem completar o curso sem repetir de ano. É a maior taxa de repetência do mundo.
Assim, no relatório "O Progresso das Nações", o Brasil aparece de forma lamentável, justificando o comentário do ministro Murílio Hingel ao jornalista Gilberto Dimenstein, da Folha: "Nosso ensino básico é vexaminoso". E o que se faz para contornar o problema? São construídos palácios pedagógicos com custos altíssimos. Esses templos são inaugurados e não se sabe de nenhuma autoridade que tenha vindo a público para anunciar a melhoria nos vencimentos dos professores. Nem o aperfeiçoamento dos seus cursos de formação.
Tudo isso confirma que somos mesmo o país dos contrastes. Já temos 334 empresas brasileiras que obtiveram os certificados de altíssima competência internacional. Se o nosso sistema educacional fosse disputar a norma, obteria o maior resultado negativo do mundo.
Se considerarmos o nosso PIB (renda per capita de US$ 2.770) e o potencial econômico brasileiro, 88% das nossas crianças deveriam concluir pelo menos a 5ª série. Somente 39% delas alcançam esse estágio, o que nos coloca abaixo de nações como o Gabão, Haiti, Arábia Saudita e Somália.
Em matéria de repetência na 1ª série, somente o Haiti, a República Dominicana e a Guatemala, na América Latina, estão em situação pior que a nossa. Em termos de aumento da escolaridade média, compulsados 129 países, somente a Jamaica está em posição ainda pior.
Somos os recordistas negativos latino-americanos em matrículas no ensino médio, disputando o último lugar com a Guatemala e a Venezuela. É claro que tudo isso é consequência de um dado essencial: somos o país que menos investe em educação na América Latina, à frente (para pior) de Argentina, México e Uruguai.
Com esse quadro, o que se pode esperar do desenvolvimento brasileiro diante da necessidade de recursos humanos qualificados? É preciso que os candidatos à Presidência tenham tempo para se debruçar sobre essa questão essencial.

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