São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 1994
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O real vence barreiras

LUIZ CARLOS SANTOS

Nem os mais radicais dos pessimistas –aqueles defensores do "quanto pior, melhor"– têm mais argumentos para criticar, ou tentar desmoralizar, o plano de estabilização econômica adotado pelo governo em 1º de julho, depois de cumpridas várias etapas preparatórias.
Os inimigos da estabilidade caíram no vazio, perderam a máscara, e seus discursos demagógicos estão sendo ridicularizados pela opinião pública. Alguns chegam mesmo a ensaiar elogios ao plano, temerosos de serem execrados no referendo maior que se aproxima: o das eleições quase gerais de 3 de outubro. Outros, mais arraigados em seus preconceitos –ou conceitos ultrapassados pela dinâmica da sociedade moderna– teimam em insistir na tese de que as medidas são eleitoreiras e inócuas. Estes, porém, pecam por não apresentar soluções para os problemas nacionais, porque não as têm ou porque preferem fechar os olhos para a realidade dos fatos.
E os fatos não mentem nunca. A começar pelo apoio que a população deu, e continua dando, à implantação da nova moeda. O real não provocou corrida aos supermercados, saques nas cadernetas de poupança ou filas nos bancos. Confiante, porque devidamente informado, passo a passo, sobre os objetivos das medidas, o cidadão comum soube esperar, cooperar e, ao invés de sacar, depositou sua confiança no futuro.
Os alardeadores de que os salários teriam perdas irreparáveis erraram o alvo. Atiraram um bumerangue que retorna, velozmente, sobre suas próprias cabeças. No período da URV, pesquisa realizada pela Fiesp comprovou um aumento de 15,2% no salário médio dos trabalhadores da indústria paulista. As remunerações mais baixas foram beneficiadas pela queda de 4,2% verificada nos preços dos produtos da cesta básica de São Paulo, no mês de julho, conforme dados do Procon. Perdas que porventura tenham ocorrido, ou venham a ocorrer, poderão ser ressarcidas nas respectivas datas-bases, conforme previsto em lei.
O governo, que durante todas as fases do Plano Real optou, sempre, pela transparência e pela seriedade, continua a seguir os mesmos princípios neste momento delicado de execução das medidas. A equipe econômica não se limita a colher os frutos conquistados até agora, mas principalmente preocupa-se em preservá-los. Tanto que o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, vem alertando a sociedade para alguns comportamentos que podem ameaçar a estabilidade econômica. Entre eles, o direcionamento dos recursos das cadernetas de poupança para o consumo, bem como a utilização indiscriminada do crediário –nem sempre um bom negócio. Paralelamente, já foram anunciadas as regras pra o financiamento da safra agrícola, com recursos da ordem de R$ 5,65 bilhões, que vão garantir a produção de mais de 80 milhões de toneladas no período 1994/1995. No setor de exportação, estão sendo preparadas medidas de incentivo para tornar os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional.
O governo tem consciência de que a consolidação do plano econômico só poderá ser alcançada mediante uma ação conjunta com a população. A vitória será do país, que passará, finalmente, a conviver com níveis de inflação compatíveis com uma sociedade moderna.
Certo disso, o presidente Itamar Franco tem se mantido firme na determinação de não permitir alterações que promovam desvios nos princípios básicos do plano. A população confia e acompanha dia-a-dia a execução das medidas. O referendo já está sendo dado. E isso preocupa os oportunistas de carreira.

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