São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 1994
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Vocação internacional do Brasil

HAROLDO VINAGRE BRASIL ; CARLOS ALBERTO ARRUDA

HAROLDO VINAGRE BRASIL ;CARLOS ALBERTO ARRUDA
Especialistas em geopolítica classificam o Brasil como "país baleia", ao lado da China, dos Estados Unidos, da Índia e Rússia. Ou seja, nações com dimensões continentais, populosas e dotadas de grande variedade de recursos naturais.
Segundo este modelo, o amplo potencial de nosso mercado interno, por si só, nos levaria, naturalmente, na direção de um movimento centrífugo de auto-suficiência e fechamento para o resto do mundo.
No entanto, o Brasil, mesmo no auge do modelo de substituição de importações, nunca esteve fechado para o mundo, no que pese o baixo nível de exposição externa de nosso comércio.
Algumas dezenas de empresas foram pioneiras nesse movimento centrífugo para fora, mantendo-se como pontas de lança do país, no seu processo lento, mas constante, de internacionalização. São firmas exportadoras de uma vasta gama de commodities e de manufaturados, com algumas já em franco processo de multinacionalização, com unidades produtoras atuando no exterior.
Aliás, não são os países que se internacionalizam, mas suas empresas. Mas esse pioneirismo da iniciativa empresarial, tende a perder momento e a se esgotar se os governos não fizerem a sua parte, de propiciar às empresas condições sistêmicas estruturais e infra-estruturais que permitam a competitividade das organizações neles localizadas.
Dentre as primeiras, destacam-se as políticas de estabilização da economia, as regras e amplitude do mercado de capitais, como indutor do crescimento, e um sistema legal ágil e isonômico na regulação dos contenciosos entre os parceiros da cadeia produtiva, que se estende dos fornecedores aos clientes, passando pelos empregados e pelo próprio governo.
Já em termos de infra-estrutura, dois fatores se sobressaem, cultura e educação básica. Ambos, quando universalmente disseminados, dirigidos para a formação da cidadania, são pré-condição para o bom funcionamento da democracia e do mercado. Essas iniciativas governamentais tornam-se ainda mais impositivas com o fenômeno da globalização dos mercados e a abertura das fronteiras, em que produtos, capitais e tecnologia, fluem através das empresas e das associações de empresas instaladas em todos os pontos do globo, independentes das ideologias vigentes.
Nestas condições, cabe à iniciativa privada escolher, livremente, seus mercados de atuação, as tecnologias aplicáveis na elaboração de seus produtos/serviços, as fontes de suprimento e o gerenciamento interno da empresa. Neste contexto, a opção entre mercado interno ou externo perde consistência, pelo crescimento da permeabilidade das fronteiras através das alianças e parcerias para o desenvolvimento de novas tecnologias, abertura de novos mercados e distribuição de produtos. Havendo condições estruturais e infra-estruturais básicas no país, haverá, consequentemente, uma ampliação do mercado interno com a integração de maior número de cidadãos como consumidores. E é nesse ponto que os "países baleia", como o Brasil, dão uma vantagem competitiva forte e sustentável, às empresas neles sediadas. O potencial de consumo de seus mercados de escala continental permite a expansão da capacidade produtiva e gerencial das empresas, fator fundamental para a sua inserção internacional.
Os próximos anos serão críticos para essa ampla integração competitiva do Brasil no mundo, a partir de uma ação governamental que dê às empresas as condições sistêmicas necessárias à sua internacionalização. Daí a importância das próximas eleições, principalmente no que diz respeito à escolha dos representantes no Congresso, instituição por onde devem passar todas as leis que irão lastrear esta reestruturação do governo.

HAROLDO VINAGRE BRASIL, 64, engenheiro, especializado em finanças e administração pelo Grupo HEC (Hantes Etudes Commerciales) na França.

CARLOS ALBERTO ARRUDA, 38, engenheiro, é doutor pela Universidade de Brodford (Reino Unido).
Os autores são professores da Fundação Dom Cabral e coordenadores do Projeto Internacionalização e Multinacionalização de Empresas Brasileiras.

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