São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 1994
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Prisão marca fim de era do terror

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

O inglês David Yallop passou dez anos na trilha de Carlos, o Chacal, para escrever "Até o Fim do Mundo" (publicado no Brasil pela editora Record), onde tentou "separar o homem do mito".
Mas nem ele escapou. Por duas vezes ele entrevistou um homem que se passava por Carlos no Líbano (Oriente Médio).
Por isso, afirmou que gostaria de ver as impressões digitais do homem preso em Paris para ter certeza de que é Illich Ramírez Sánchez, nome verdadeiro de Carlos, o Chacal.
A prisão de Carlos, para Yallop, pode ser o começo do fim da era dos terroristas com ideologia de esquerda, que estão dando lugar aos radicais religiosos.
Para o escritor inglês, o terrorista mais procurado pelo Ocidente foi traído pelo governo sírio, que durante vários anos o apoiou e abrigou.
Além da Síria, o Chacal tinha amigos no Irã, que poderiam tentar libertá-lo da cadeia francesa onde está preso.
Ele falou à Folha ontem em Londres e fez questão de elogiar Búzios (litoral do Estado do Rio), onde esteve no final do ano passado –quando visitou o Brasil para lançar seu livro sobre o terrorista nascido na Venezuela.

Folha - O que significa a prisão de Carlos para o terrorismo internacional? É o fim de uma era?
David Yallop - É o fim de Carlos, por enquanto. Ainda temos, na Líbia, Abu Nidal, que deve ser o homem mais procurado do mundo hoje, e, na Síria, Ahmed Jibril (dois terroristas palestinos com ideologia de esquerda).
Mas de certa forma pode-se falar sobre começo do fim de uma era de terrorismo de esquerda.
Folha - O sr. disse que é o fim de Carlos, por enquanto. Há alguma chance ainda de ele sair da prisão?
Yallop - Oh, sim. Eu não descartaria uma fuga da prisão ou até mesmo o assassinato dele em uma briga entre presos.
Há muitas pessoas que temem pelo que ele pode dizer. Há muitas pessoas que o querem morto.
Folha - Quem poderia ajudá-lo a escapar da prisão?
Yallop - As pessoas que o querem ver morto.
Folha - Mas não há ninguém que queira ajudá-lo?
Yallop - Ele não é um homem de muitos amigos, talvez alguns no Irã. Mas sua base principal nos últimos anos era a Síria e não acho que a Síria esteja interessada em ajudá-lo agora.
Folha - Quando o sr. se encontrou com Carlos em 1989, o sr. podia sentir que ele era um homem acuado, com medo de ser preso?
Yallop - Não. Há informações hoje (ontem) de que ele estava rindo e fazendo piadas com os guardas franceses. Isto é bem típico de Carlos. Ele é um homem muito bombástico, machista, arrogante. Carlos não é um homem simpático, que se pode apresentar para sua mulher.
Mas ele pode se tornar tão simpático que você pode até pensar em apresentá-lo para a sua mulher. É preciso estar ciente de seu lado negro.
Folha - O sr. o encontrou quantas vezes?
Yallop - Eu encontrei um homem que se passou por ele duas vezes e com ele de verdade apenas uma.
Folha - O sr. desconfiou que não fosse ele?
Yallop - Não, nem por um momento. Eu o entrevistei (o falso Carlos) por quase 20 horas no vale do Bekaa (Líbano).
Folha - E desta vez, o sr. tem alguma dúvida que o homem preso em Paris seja ele?
Yallop - Eu gostaria muito de comparar suas impressões digitais. Várias vezes nos últimos dez anos prenderam pessoas que diziam ser Carlos e depois não eram. Mas desta vez acho que é ele.
Os franceses poderiam se enganar, mas não os sírios. E acho que ele foi entregue pela Síria. Damasco o traiu.

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