São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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O poder dos "sem-conta"

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Uma nova rodada de pesquisas reservadas chegou ontem ao comitê de Fernando Henrique Cardoso, encomendadas para traçar a estratégia de campanha. A diferença a favor do candidato tucano em relação a Lula já seria de dez pontos.
É uma indicação de que Fernando Henrique não parou de crescer, embalado pelo Plano Real. Por trás dessa onda, há um gigantesco grupo que, até então, inclinava-se majoritariamente ao PT –os "sem-conta".
No seu discurso a favor dos chamados "excluídos", Lula ganhou a simpatia de uma variada modalidade dos "sem" –"sem-terra" e "sem-teto", por exemplo. Sem organização, estatuto e liderança, há também os "sem-conta", aqueles que sem acesso aos bancos.
A inflação é, especialmente, devastadora para quem não tem uma conta bancária. Seu dinheiro exibe a consistência de uma barra de chocolate exposta ao sol de verão. O PT alardeava que, nessa situação, existiriam 60 milhões de brasileiros.
Óbvio que, com os preços estáveis, os "sem-conta" sintam que seu pouquíssimo dinheiro vale mais. Por isso, entre outras coisas, Fernando Henrique Cardoso consegue crescimento veloz nas camadas mais pobres.
O assessor de imprensa do PT, o jornalista Ricardo Kotscho, teve uma experiência ao vivo dessa sensação. Ele entrou num bar, onde um homem tomava uma pinga. O indivíduo pagou duas doses com uma moeda e, satisfeito, comentou: "Quem diria, nunca pensei que conseguiria pagar pinga com uma moedinha".
Kotscho tentou argumentar que, depois da eleição, aquilo iria acabar. E ouviu um singelo comentário: "Olha, doutor, isso eu sei. Mas até lá a gente aproveita."
PS – A propósito de levantamentos de opinião, um dado serve como indicador da elite intelectual paulistana. A livraria Cultura, uma das mais badaladas de São Paulo, recolheu em urna as preferências para presidente e governador. Foram computados ontem 733 "votos". Para governador, José Dirceu, do PT, exibe um bom desempenho, várias vezes superior ao registrado nos levantamentos gerais: está com 27%. Em primeiro, Mário Covas com 56%. Para presidente, FHC tem 53%; Lula, 35%.

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