São Paulo, quinta-feira, 18 de agosto de 1994
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Vulcões e oásis estão no caminho de quem vai ao Salar de Atacama

SILVIA ROSA DOS SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A 70 km ao sul de San Pedro, se situa o Salar de Atacama. A viagem é longa e as estradas ruins e esburacadas. No caminho entre uma cidade e outra, se encontra o "Tambillo", antiga aguada de tropeiros e hoje um bosque.
O bosque é todo constituído de tamarugos. Grandes e frondosos, eles surpreendem sobre as areias. Consegue sobreviver devido a sua raiz que alcança até 20 metros de profundidade e consegue extrair umidade do lençol freático.
Mais adiante, no mesmo rumo, fica o antigo vilarejo incaico de Toconao, com cerca de 500 habitantes. As casas e igreja foram construídas com blocos da pedra vulcânica liparita, cuja jazida se localiza perto do povoado.
Os toconenses escondem um segredo. A dois quilômetros de distância, no fundo de uma profunda ravina, desce um pequeno curso d'água. De origem termal, o curso forma um viçoso oásis de uns oito quilômetros de comprimento e 100 metros de largura.
Exuberante de flores e frutas, o oásis da Quebrada de Jerez é o celeiro de Toconao. Lá, por milhares de anos, gerações e gerações de famílias atacamenhas mantêm suas chácaras e pomares.
No local restam velhas ruínas de casas e fortalezas, vestígios de uma longa ocupação, que se erguem entre os pomares, ricos em marmelos, peras e uvas que produzem um vinho famoso.
O itinerário prossegue com uma visita ao vulcão Lascar de 5.154 metros de altura, com uma enorme cratera a expelir gigantescas nuvens de gases ardentes.
A região inteira apresenta vestígios das sucessivas erupções. Bombas vulcânicas e cordões de lava se espalham pelo terreno. São frequentes no local os abalos sísmicos, tremores e terremotos.
Pouco mais adiante resplandece o salar. Com um ar de uma sequidão quase absoluta, tem fama de nos dias mais límpidos permitir a visibilidade de extremo a extremo. O panorama se assemelha a um grande mar seco.
Antes dos Andes, a região de Atacama era um fundo oceânico. Fenômenos geológicos determinaram a elevação dessas terras e assim grandes extensões marinhas ficaram isoladas numa região de clima árido que ocasionou o seu paulatino dessecamento.
Ao evaporarem-se as águas, o conteúdo dos compostos nelas dissolvido ficou cada vez mais concentrado até que finalmente só restou uma gigantesca planície de sais: o Salar de Atacama.
É uma grande depressão de mais de 3.000 km 2, a mais de 2.300 metros acima do nível do mar, alimentado pelas águas do rio San Pedro e outros escassos cursos d'água que provêm da alta cordilheira, formando lagos subterrâneos, em que os sais flutuam formando uma grossa crosta na superfície.
Ocasionalmente, as águas afloram criando lagoas de uma intensa cor avermelhada. Ricas em iodo, elas permitem a formação de uma estranha cadeia alimentar.
Minúsculas algas rodofíceas sustentam um pequeno artrópode, que por sua vez nutre a ave mais bela do deserto: o flamingo cor-de-rosa.
O Salar tem quase 90 quilômetros de comprimento e entre 30 a 50 quilômetros de largura, sendo o maior depósito mundial de sais de lítio, potássio e bórax.
O local é tão remoto, que permanece virgem à ação do homem. É possível achar belíssimos cristais do mineral selenita, crescendo lentamente em todas suas salobras lagoas.
(SRS)

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