São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 1994
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Os lucros da inflação

Ainda que a maioria perdesse, a inflação teve seus beneficiários.
A constante perda de valor do dinheiro e o rápido giro das aplicações tornaram os serviços bancários muito solicitados pelos agentes. E deram aos bancos fartos lucros.
Altas taxas de juros possibilitaram a existência de elevados "spreads" e os bancos comerciais eram ainda favorecidos pela aplicação dos recursos depositados à vista, o chamado "floating", captado a custo zero. O que não mais ocorre hoje, com a obrigatoriedade de recolhimento não remunerado de 100% dos depósitos à vista ao BC.
Os dados apresentados ontem no caderno especial "Folha 300 Finanças" colocam em números esses fatos. Com uma média de 12,34% de lucro líquido sobre o patrimônio, o setor foi o mais rentável da economia brasileira no ano passado.
Prevendo a drástica diminuição dos ganhos derivados do "floating", o setor financeiro veio se preparando nos últimos anos para a queda da inflação. Nos bancos federais e estaduais, entretanto, fica evidente a lentidão dessa reestruturação –se é que ela de algum modo ocorreu. São desproporcionais os gastos com pessoal. Em 1993 eles foram equivalentes a 1.187% do resultado líquido, contra 417% nas instituições privadas. Ademais, essas organizações se encontram excessivamente comprometidos com empréstimos a seus controladores.
Com baixa inflação, a atividade central do setor financeiro deve deixar de ser a mera intermediação de títulos públicos entre o governo e os aplicadores. É de se esperar que, como ocorre em todas as economias estáveis, os bancos captem poupança para financiar investimentos e produção.
No Brasil, porém, persistem certos obstáculos a essa mudança. A proximidade das eleições e portanto o horizonte relativamente curto da atual política econômica pode inibir a realização de empréstimos e contratos de mais longo prazo. Mas a causa fundamental a impedir a normalização das atividades de financiamento é, ainda, a persistência de elevadíssimas taxas de juros.
A um custo superior a 40% ao ano é praticamente impossível financiar com empréstimos qualquer atividade produtiva a longo prazo.

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