São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 1994
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O trem da história

CLÓVIS ROSSI

VITÓRIA – Dizem que o Brasil perdeu o bonde da história. O trem, então, nem se fala. A opção preferencial pela rodovia foi um dos muitos erros de planejamento estratégico cometidos ao longo dos anos.
O resultado está à vista hoje: o país nem tem ferrovias nem rodovias dignas desse nome, efetuando um punhado de estradas estaduais em São Paulo.
Talvez seja o momento de se rever agora, véspera do início de um novo governo, o erro praticado lá atrás. Afinal, o transporte de carga por trem é visivelmente mais econômico do que pela rodovia, o que já bastaria para justificar uma revisão das prioridades nessa área.
Mas há também o aspecto também transporte de passageiros, ainda que o gênero humano não pareça gozar, hoje em dia, de considerações especiais na agenda dos políticos. O trem é a maneira mais civilizada de se viajar. Mais até do que de avião, principalmente para aqueles que tem alguma fobia em viagens aéreas.
Tome-se os 500 ou 600 quilômetros entre Paris e Genebra. Basta apanhar o TGV (trem de grande velocidade) na Gare de Lyon, praticamente no centro de Paris, e um "Le Monde" e um "Liberacion" depois já se está na Gare de Cornavin, coração de Genebra.
Gasta-se umas quatro horas para ler estes dois jornais franceses, desde que bem lidos, é claro. Agora tome-se a principal rodovia brasileira, a BR-101, que vai de um Rio Grande (o do Sul) ao outro (o do Norte).
Não dá nem para ler a Folha no trecho de meros de 272 quilômetros entre Vitória, a capital capixaba, e Conceição da Barra, litoral norte do Estado. É sobressalto demais. A pista é única, o asfalto não chega a ser precisamente um tapete, a uma penca de caminhões indo e vindo, a sinalização é precária.
Em todos os Estados cortados pela BR-101, exige-se a sua duplicação, sem falar na recuperação dos trechos mais devastados. Não seria mais sensato, já que o Brasil vai ter mesmo que investir na infra-estrutura de transporte, pensar-se em recuperar o trem da história?

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