São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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PT 'light' pode levar no Espírito Santo

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA

O Palácio Anchieta, sede do governo do Espírito Santo, tem tudo para acolher, a partir de 1.o de janeiro, o primeiro governador eleito pelo Partido dos Trabalhadores nos 15 anos de história do partido.
É este pequeno Estado de 1,6 milhão de eleitores o único em que um candidato do PT lidera as pesquisas de intenção de voto.
Mas não se trata de um PT ao qual se associam imagens de radicalismo e doses de preconceito.
O nome do possível primeiro governador da história do PT é Vitor Buaiz e seu perfil difere radicalmente do de Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato presidencial e porta-bandeira petista.
Para começar, Buaiz não é operário e, sim, médico gastroentereologista. Dá aulas na UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) e, aos 51 anos completados na última sexta-feira, exibe experiência tanto no Legislativo como no Executivo.
Foi deputado federal durante o Congresso constituinte (86/88) e, em seguida, elegeu-se prefeito de Vitória pelo PT.
"O Vitor é um modelo de equilíbrio e moderação", depõe o jornalista Rogério Medeiros, que foi o vice-prefeito do atual candidato petista ao governo capixaba.
O próprio candidato atribui mais a ele e a seu perfil do que ao partido o fato de o Espírito Santo estar prestes a se transformar, eventualmente, no primeiro (e único) território petista no país.
Ocupação do vazio
Reforça Renato Soares, secretário-geral nacional do PSB, candidato a deputado federal pela coligação que apóia Buaiz: "A figura dele ajuda porque foi o prefeito que conseguiu governar junto com todas as forças progressistas".
Já o seu principal adversário, o ex-governador Max Mauro (87-90), agora candidato pelo nanico PMN, prefere ver na ascensão de Buaiz apenas a ocupação de um vazio.
"Não se trata nem do PT nem do Buaiz, mas da omissão das lideranças do Estado", diz o também médico Max Mauro.
É uma alusão pouco velada ao senador Gerson Camata (PMDB), candidato à reeleição e tido como uma das grandes forças eleitorais do Estado.
Camata era uma expectativa de candidato até o último momento do prazo legal. Preferiu, no entanto, disputar a reeleição, em vez de enfrentar Vitor Buaiz, deixando um vazio no amplo espaço à direita do PT.
Onde Buaiz volta a coincidir com uma das características marcantes de seu partido é no tipo de apoios que recebe.
"Minha principal base eleitoral é o magistério público, embora 90% dele não seja ligado ao PT", afirma o candidato.
Eis aí um possível ponto de conflito para uma eventual gestão PT no Espírito Santo, dado que Buaiz diz que é preciso "enxugar a máquina pública", hoje composta por 70 mil pessoas.
Voluntarismo
Também nesse ponto, o candidato é muito petista, no voluntarismo com que se dispõe a enfrentar possíveis dificuldades com quem o apoiou na campanha.
Motivo do otimismo: Buaiz garante que recebeu a Prefeitura de Vitória com 74% da receita comprometida com o pagamento do funcionalismo, cujos salários eram baixos.
Ao sair, apenas 48% da receita iam para salários, já então elevados ao ponto de uma professora municipal ganhar três vezes mais do que uma do Estado.
O segredo: "Aumentar a arrecadação cobrando dos ricos, que não pagavam", diz Rogério Medeiros, o vice que foi também secretário de Finanças.
É essa mesma mentalidade que Buaiz pretende levar para o Palácio Anchieta, se chegar lá, no que se transformará na prova de fogo para o PT, por mais "light" que seja.

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