São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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PT admite que subestimou efeito Real

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT admite que errou na avaliação do efeito eleitoral do Plano Real, o maior motivo para a despencada da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.
"É inegável que o país quer moeda estável e isso tem valor político", afirma, agora, Aloizio Mercadante, candidato a vice na chapa de Lula.
Foi Mercadante, no entanto, quem mais lutou para que Lula marcasse seu discurso com críticas ao plano e fizesse a aposta, ainda que dissimulada, no fracasso eleitoral das medidas. "O plano não vai ter efeito eleitoral", dizia Lula até constatar o erro da avaliação.
Nas discussões internas, o economista Paulo Batista Nogueira Júnior foi voto vencido ao alertar o candidato que as medidas poderiam, pelo menos no primeiro momento, engordar o cacife de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"Nós subestimamos o real", declara José Fortunati, líder da bancada do PT na Câmara. A mesma avaliação já foi feita publicamente por Gilberto Carvalho (secretário-geral do PT) e Marco Aurélio Garcia (coordenador do programa de governo de Lula).
"A subida de FHC foi inesperada para nós", concorda o empresário Oded Grajew, um dos mais ativos cordenadores da campanha do candidato petista.
Sem discurso para enfrentar a receptividade inicial à nova moeda, o inferno astral do PT foi agravado pelo episódio Bisol e, mais grave, pela inédita apatia de uma militância temida pelos adversários políticos.
Pelo menos até agora, o conhecido fervor dos petistas não apareceu na campanha. Atônita, a direção do partido ainda acredita que a situação será revertida.
"Os militantes já apareceram nos comícios da semana", diz, por exemplo, Rui Falcão, o presidente nacional do PT.
Mesmo que a militância seja mobilizada pelo tom emocional que Lula adotou em seus últimos programas de TV, a apatia atual reflete problema mais complexo.
As instâncias participativas do PT sofreram um esvaziamento brutal nos últimos anos. O domínio de grupos organizados e o próprio esvaziamento das ações de massa dos movimentos sindical e social refletiram no interior do PT.
Não por acaso, o partido vive o drama de hoje de ser dirigido por pessoas com representação interna legitimada, mas com quase nenhuma inserção na sociedade.
Essa situação refletiu-se claramente na escolha de candidatos inexpressivos para a disputa dos governos estaduais.
No início do ano, Lula percebeu que estava caindo numa armadilha, mas recusou-se a "peitar" os grupos sectários que optaram por candidaturas suicidas para marcar posição nas sucessões.
"Quero ver se eu for para o segundo turno e tiver contra todos os governadores eleitos no segundo turno", afirmou Lula numa reunião do Diretório Nacional que discutia a estratégia para as eleições estaduais.

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