São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Na Fiesp, tucano associa Lula ao caos

REINALDO AZEVEDO
EDITOR-ADJUNTO DE POLÍTICA

A avaliação de que à eventual eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva sobreviria o caos tem sido uma das pedras-de-toque da pregação tucana junto aos setores chamados formadores de opinião.
Em palestra conferida no dia 17 de agosto aos membros do Conselho Superior de Orientação Política e Social (Cops), da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o professor Hélio Jaguaribe, cientista social tucano, afirmou que, se Lula for eleito, o país estará entregue aos radicais.
A síntese de sua palestra está no próximo número da revista "Notícias", órgão editado pela Fiesp, Ciesp, Sesi, Senai e IRS.
A revista, de circulação semanal, começa a ser distribuída amanhã a todos os filiados às entidades que patrocinam a publicação.
O tucano previu na Fiesp o pior dos cenários caso Lula seja eleito. Sua eleição provocaria fuga de capitais e invasão de terras.
O mais provável, segundo Jaguaribe, é que Lula seguisse os passos do presidente chileno Salvador Allende, socialista deposto em 1973 pelos militares, liderados pelo general Augusto Pinochet.
Reportagem da Folha publicada ontem mostra que o comitê de FHC distribuiu a jornais do interior uma entrevista atribuída ao diretor do Banco Central Gustavo Franco em que este dizia que, se eleito, Lula dará um calote na dívida interna, aí incluídos fundão e poupança. Franco negou que tivesse dado a entrevista.
FHC
Em sua exposição, Jaguaribe defendeu a candidatura do tucano Fernando Henrique Cardoso e disse que, uma vez eleito, sua prioridade deve ser a revisão constitucional.
Jaguaribe disse ainda que dois foram os modelos econômicos que sobreviveram: o social-liberalismo e a social-democracia. FHC seria um social-democrata com uma "pitada" social-liberal.
O intelectual tucano afirmou que só FHC poderia constituir um ministério competente, que gozasse da aceitação internacional.
Jaguaribe, decano do Instituto de Estudos Políticos e Sociais do Rio de Janeiro, já foi ministro da Ciência e Tecnologia do governo Collor (1992).
O professor é um especialista em desenhar cenários. Ao ex-presidente José Sarney, entregou, em 1988, o estudo "Brasil 2000".
Nesse trabalho, alertava para o risco de caos e desordem social se o governo não passasse a aplicar US$ 6 bilhões por ano em investimentos sociais. Nenhuma das duas coisas aconteceu.
Em 1990, pouco antes de Collor assumir, apresentou ao PRN outro estudo sobre "as perspectivas do Brasil no próximo governo".
Em 14 de janeiro de 1991, Jaguaribe fazia a Collor as mesmas previsões que fez a Sarney.
Indicado secretário da Ciência e Tecnologia de Collor, deu uma entrevista à Folha, no dia 31 de maio de 1992, em que via afastado o risco de uma crise social aguda.
O caos, velho conhecido de Jaguaribe, pelo visto, voltou a ser uma ameaça diante da possibilidade –remota segundo as pesquisas– de Lula vir a ser eleito.

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