São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Exército recusa combate à violência no Rio

LUIZ CAVERSAN ; SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O Exército Brasileiro não quer e não vai atuar na repressão ao tráfico e à criminalidade no Rio.
Segundo informações colhidas pela Folha junto a oficiais superiores de diversas unidades sediadas no Rio, não há dúvidas entre os comandantes de que o trabalho policial não é atribuição do Exército e que a tropa não tem treinamento específico para este fim.
Além disso, quer se evitar uma situação semelhante à vivida pelos soldados norte-americanos durante a guerra do Vietnã (1963-1973), na qual o inimigo era difuso, dominava totalmente o terreno em que atuava, tinha o respaldo da população e acabou levando à derrota o país mais poderoso do mundo.
A opinião contrária à atuação das tropas como força policial é compartilhada pelo ministro do Exército, Zenildo de Lucena, oficiais comandantes do Exército e também pelos principais comandantes das Forças Armadas na cidade.
"Seria uma aventura insana", afirma um coronel de Exército, para quem os preceitos constitucionais são claros: "As Forças Armadas estão constituídas para combater em defesa da pátria. Não têm treinamento e nem são estruturadas para atuar no combate ao tráfico nos morros. As pessoas de bom senso sabem disso."
A atuação das Forças Armadas contra o crime tem sido reivindicada por alguns setores da sociedade civil, para quem a atuação da polícia local é ineficiente.
E tornou-se, para muitos, uma possibilidade concreta a partir do momento em que homens do Exército, armados e respaldados por veículos de guerra, entraram semana passada numa favela em busca de armas que lhes fora roubadas.
Eles estavam ali, informa o Exército, atendendo a determinação da Justiça Militar, que ordenou "busca e apreensão" do material desaparecido.
A ocupação de favelas ou morros para este fim, garantem os oficiais, vai ocorrer sempre que houver situação semelhante –um quartel for invadido ou um militar atacado em serviço. Mas nunca para realizar prisões por causa de drogas ou para proteger a população local.
O respeito à Constituição é a principal –mas não única– alegação dos militares para não dar às suas tropas tarefas de responsabilidade das polícias estaduais.
Mas outros motivos sustentam o não-envolvimento militar no combate à criminalidade:
1. Não adianta ir às favelas sem saber quem é criminoso e quem não é, onde o "inimigo" está, que tipo de armamento possui etc.
2. As Forças Armadas avaliam que o tema tem sido muito explorado com objetivos eleitoreiros. Deste modo, o combate sistemático ao crime pode dar a impressão de engajamento em campanha.
3. O Exército, em particular, não quer se meter em uma situação na qual pode ser fácil entrar, mas difícil de resolver o problema e mais difícil ainda de se sair dele. "Com o Exército lá, tudo que que acontecer –de bom e de ruim– será de nossa responsabilidade", diz um coronel.

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