São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994 |
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'Quero com cheiro de hortelã'
AURELIANO BANCARELLI
Outros três amigos de escolas do bairro já aderiram à mania. Para não provocar suspeitas na farmácia, os primos adotaram uma estratégia que ensinam aos novos colecionadores. "Não sei se o papai vai gostar desta", diz Inácio, 9, com as camisinhas na mão diante do caixa. André, 8, já sabe o que dizer. "É esta mesma que ele pediu." Em casa, os primos costumam misturar as camisinhas com os carrinhos e pequenos heróis de plástico que espalham pela sala. Para André, a mais rara da coleção é uma Supersex vermelha e preta. Seu sonho é ter uma verde importada que um amigo conseguiu. Inácio está procurando camisinhas com cheiro de morango e hortelã. Os primos acham que daqui a quatro ou cinco anos estarão usando a coleção. "Até lá, vou ter 195", diz André. Se alguém pergunta para o que serve tanta camisinha, ele tem a resposta pronta. "Serve para por no pinto e não ter Aids. E para transar quando a pessoa não quer ter filhos." Inácio completa a lição aprendida do tio médico. "Aids também pega com sangue, quando alguém recebe transfusão e quando usa a mesma seringa." André explica por que algumas pessoas pegam Aids fazendo sexo. "Tem gente que não quer usar. E tem gente que quando estoura não quer trocar." Darlene, mãe de Bruno, às vezes se preocupa. "Eles querem ver filmes eróticos e levar revistas 'Playboy' para a escola", diz. Por enquanto, a camisinha é para eles uma espécie de brinquedo erótico. Os dois primos já abriram alguns envelopes e foram para a escola com a camisinha vestida no pênis. Ninguém ficou sabendo. "Foi só para curtir", diz Inácio. (AB) Texto Anterior: 'Guardo para o imprevisto' Índice |
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