São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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'Guardo para o imprevisto'

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A turma do Daniel já tem mais de cem camisinhas. Por enquanto –eles confessam-, só têm servido como coleção e brincadeiras de masturbação.
Ninguém transou ainda. "Estamos na esperança", brinca Sandro, 14 anos, oitava série. "Uma hora vai dar."
Todos eles carregam na carteira o modelo preferido."É para quando acontecer um imprevisto", diz Daniel, 14. Ele é dono de 28 camisinhas diferentes e iniciou a coleção há dois meses.
Todos acham que o "imprevisto" está próximo de acontecer. "Pode ser no próximo final de semana, na brincadeira do gato-mia", diz um deles. Nesse dia, a turma de meninos e meninas deve se encontrar numa fazenda próxima a São Paulo. A brincadeira do gato-mia é feita à noite.
No último passeio, Raphael, 12, pulou a janela e foi dormir com as meninas. "Não aconteceu nada", ele garante.
Erica, 13, é a única colecionadora do grupo. Já tinha seis camisinhas quando decidiu ver como eram, abriu todas e pendurou-as no armário. "Achei muito legal. Estou começando de novo", diz.
A idéia de colecionar surgiu quando um dos meninos encontrou na gaveta da irmã mais velha uma variedade de 15 camisinhas. "Eram para uso mesmo", um deles explica.
A partir daí, cada um começou a montar sua coleção. Nos fins de semana, quando vão aos shoppings, eles percorrem as farmácias em busca de novidades.
Fábio, 12, encontrou uma loja de importados com camisinhas que nunca viu. Está guardando segredo. Ele e o irmão Daniel aguardam a volta da tia que está viajando. "Ela vai trazer camisinha da Índia, da África. Deve ser uma loucura."
Artur, 10, o mais jovem da turma, tem 18 camisinhas. João, 13, está com 25. Todos estudam na escola Albert Sabin, no Parque dos Príncipes (zona oeste).
Para os estudantes mais velhos, eles evitam falar da coleção. "Se contar, vem gozação", diz Daniel.
O segredo só é revelado para as meninas. "Fazemos o maior sucesso", garantem.
(AB)

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