São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994 |
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Quero a faca de volta, Lorena!
MOACYR SCLIAR
Você pode patenteá-la, sob a designação de 'Faca para castigar maridos' ou outra qualquer. Você pode até colocá-la num templo ou santuário, onde milhares de admiradoras suas virão para reverenciar o que sem dúvida se transformará num eloquente objeto do desejo. Mas você não tem direito a fazer nada disso, Lorena. A faca é minha e eu a quero de volta. Em primeiro lugar, paguei por ela. Isto pode não lhe dizer muito, mas já que não vamos mais viver juntos e temos de proceder a uma separação dos bens, eu, como cônjuge mais obviamente prejudicado, exijo: a faca é minha. Com o resto –os móveis, o freezer, o telefone– você pode ficar. Mas a faca é minha. Você pode perguntar o que eu farei com a tal faca, Lorena. Será que eu, tomado de indignação, a jogarei ao mar? Ou será que, ao contrário, passarei meus dias a olhá-la, meditando sobre a minha intrínseca violência? Nada disto, Lorena. Sabe como vou usá-la? Como faca de cozinha, Lorena. Esta será a minha deliciosa vingança: usarei a faca que você transformou num instrumento de sua raiva como um simples utensílio doméstico. Com ela, prepararei os meus próprios pratos. Por exemplo: picadinho au gratin. Você conhece: Toma-se um quilo de filé mignon, e, com uma faca, repito, com uma faca, corta-se os pedaços pequenos. Depois... Não vem ao caso. O que eu quero lhe mostrar é que posso fazer mil coisas com a faca. Mas antes de mais nada, Lorena, eu a quero de volta. Do contrário... Bom, você já sabe. Seu, John Bobbitt." Texto Anterior: Direito se materializa em cada mapa Próximo Texto: Liquidação conjunta em 12 shoppings oferece descontos de 5% a até 50% Índice |
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