São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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BC sustenta taxa de juros de bom tamanho

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

O Banco Central reduziu a taxa do over-selic esta semana de 5,28% para 5,25%. A queda foi pequena, mas cheia de significados. Ao contrário das previsões de alta do over de uma parte do mercado –baseadas na suposta necessidade de o governo conter a expansão do consumo, frear a monetização da economia e evitar fuga de dinheiro de ativos financeiros–, o BC optou por seguir caminho oposto. Por várias razões.
A política: parte sobretudo das classes de menor poder aquisitivo o movimento de retorno às compras e de saque das cadernetas de poupança e fundos de commodities; e não seria politicamente agradável estancar esse processo num momento de esforço total de vitória de Fernando Henrique já no primeiro turno.
A econômica: a maior preocupação do BC parece ser a de não onerar ainda mais o custo financeiro das empresas, formadoras de preço e eleitoras de Fernando Henrique.
A técnica: não tem sentido elevar os juros agora quando setembro nascerá num quadro radicalmente inverso; o pregão de DI futuro da BM&F projeta over praticamente estável no mês que vem (5,22% contra 5,33% este mês), mas o IPC-r cairá do patamar de 3,5% para algo entre 1% e 1,5%.
A despeito das sinalizações do BC, parcela do mercado ainda insiste no pessimismo com a inflação do mês que vem. E cresce o descontentamento com a política de juros do Banco Central, considerada tímida no ataque ao aquecimento das vendas do comércio e à crescente monetização. A análise de uma parte das instituições é a de que se o BC persistir complacente com o ritmo das vendas pode se repetir o fenômeno da febre consumista do Plano Cruzado. Restrito ainda às classes C e D, a propulsão ao consumo tenderia a se estender às classes média e alta, eleitoras eufóricas de Fernando Henrique. O desfecho imaginado é trágico: estocagem, desabastecimento e retorno da inflação.
A análise peca por excesso de pessimismo e contém, como não poderia deixar de ser em se tratando de mercado, uma boa pitada de especulação. Na verdade, como bem está mostrando o IPC-Fipe, o principal foco de pressão sobre os índices provém do "in natura", dos alimentos. Com o real, a população de baixa renda passou a comer mais e melhor. E contra essa demanda não adianta elevar o juro ou restringir o crédito, pois não se compra legume no crediário. O único jeito é pôr mais comida nas prateleiras. É por isso que o BC não eleva o juro.
Se o consumo se alastrar, ele pode baixar conjunto clássico de medidas anticrédito. Por enquanto não precisa. Não há, portanto, motivos para alarme. O Departamento de Economia da agência "Dinheiro Vivo" projeta para setembro um IPC-Fipe de 1,5%. Se o BC abrir setembro, como supõe o mercado futuro, com over a 5,33%, projetará juro efetivo de 3,8% e real de 2,27%. De bom tamanho.

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