São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Financiamentos ainda são inexpressivos

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma parcela do aumento nas vendas de automóveis é creditada às compras com finalidade de investimento, por conta da queda nominal dos rendimentos das aplicações financeiras.
"A classe média quer melhorar a qualidade de seus ativos", afirma Alcindo Almeida, diretor da Credial. Este desejo tem levado alguns clientes a utilizar suas aplicações ou o carro velho para bancar parte do valor de um veículo novo, financiando o restante.
Receosas de que o governo adote medidas de contingenciamento do crédito, as financeiras são unânimes em afirmar que não está ocorrendo uma explosão de consumo.
"Está havendo uma realocação das formas de pagamento. Com a estabilização da economia o consumidor pode planejar as compras", diz Agostine, da Credial.
As estatísticas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) confirmam em parte essa tese. As consultas ao Telecheque, termômetro das vendas à vista e com cheque pré-datado, caíram 6,6% neste mês, em relação a agosto de 1993.
Já as consultas ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), que medem as vendas pelo crediário, cresceram 41% no mesmo período.
Para Marcel Solimeo, economista da ACSP, esses números mostram "um aumento do consumo, mas que não é explosivo".
Se o governo decidir elevar os juros para conter o consumo através do crédito, o efeito será inócuo, na avaliação de Solimeo. Isso porque as grandes lojas estão financiando as vendas de crediário com recursos próprios e dos fornecedores.
Flávio Gonçalves Pacheco, diretor técnico da Acrefi, entidade que reúne as financeiras, afirma ainda que uma alta dos juros tem efeito secundário na decisão de compra a prazo pelo consumidor.
"Para ele, é mais importante saber se o valor de cada prestação cabe no seu salário e o crédito prefixado com prazo maior atende essa necessidade", diz Pacheco.
Em sua avaliação, qualquer medida adicional de restrição ao crédito agora é desnecessária.
Isso porque os empréstimos para pessoas físicas são inexpressivos. Hoje, representam apenas 0,3% do PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, cerca de US$ 1,3 bilhão.
Segundo Pacheco, há espaço para o volume do crédito ao consumidor ser multiplicado por dez. Em 1980, ele representava 3,6% do PIB, ou US$ 12,8 bilhões.

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