São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Economia mundial: hora de aproveitar os bons ventos

ANTONIO KANDIR

Cada vez mais provável, a vitória de Fernando Henrique Cardoso cria expectativas claramente positivas quanto à consolidação da estabilidade econômica e à retomada do desenvolvimento no próximo mandato presidencial.
Dentre os fatores importantes para determinar o impulso e a sustentação da retomada do desenvolvimento, está o desempenho da economia mundial. É oportuno, portanto, considerar a evolução provável da economia mundial nos anos a seguir. As últimas projeções divulgadas pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos) indicam a continuidade do processo de retomada nos Estados Unidos e os primeiros sinais firmes de recuperação na Alemanha. As mesmas projeções detectam ainda indícios de que a recessão teria chegado ao fim no Japão e em países da Europa continental, como França e Itália.
Importa observar que esse quadro de retomada gradual e tendencialmente convergente ocorre em condições favoráveis no tocante a pressões inflacionárias, o que faz prever sua continuidade nos próximos anos. Não apenas porque países-chave, como Alemanha e Japão, apenas ensaiam processos de retomada, devendo permanecer com taxas de crescimento aquém de seus respectivos PIBs potenciais até 1996. Mas também porque, mesmo nos EUA, que iniciou a mais tempo o processo de retomada, não parece haver no horizonte de médio prazo ameaças inflacionárias que possam pôr fim ao ciclo de crescimento.
Com a economia dos principais países industrializados em crescimento gradual, mas sustentado, o comércio mundial deve apresentar desempenho favorável. A OCDE projeta crescimento de 6,7% e 7,2% (o FMI é mais conservador, projetando taxas de crescimento de 5,8% e 6,3%, respectivamente). De todo modo, são taxas de crescimento superiores às verificadas nos primeiros anos desta década, caracterizados por recessão em todos os principais países industrializados.
Abre-se assim um cenário favorável para as exportações brasileiras. Ocorre, porém, que o crescimento das exportações brasileiras não é resultado automático do crescimento do comércio internacional em seu conjunto. A esse respeito, o decisivo é saber qual será a participação do Brasil nesse aumento global.
Quanto a isso, há motivos de preocupação. As exportações brasileiras têm perdido mercado em várias regiões do globo, à exceção do Mercosul. Não apenas deter esse processo de perda de mercados externos, mas também deflagrar um esforço articulado de internacionalização que permita ao país aumentar sua participação, hoje irrisória, no comércio internacional, deve ser uma das metas estratégicas do novo governo.
Somado ao aumento do consumo interno que a consolidação da estabilidade acarreta, um esforço consistente de internacionalização terá importância decisiva para estimular ainda mais o investimento, reforçando o impulso de retomada do desenvolvimento.
A meu ver, esse esforço deve apoiar-se no seguinte tripé: 1) uma reforma tributária que desonere as exportações; 2) um programa de capacitação tecnológica que nos permita competir nos mercados externos mais dinâmicos; 3) uma política de promoção comercial em que o BNDES, assumindo funções no financiamento às exportações, desempenhe papel central.
Felizmente essas não são palavras lançadas ao léu. São compromissos firmados por Fernando Henrique Cardoso em seu programa de governo. Os bons ventos da economia mundial já começaram a soprar. Com a nau nas mãos certas, vamos aproveitá-los.

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